quinta-feira, 6 de maio de 2010




Procurando seu espaço

* Por Mateus Berteges

E o homem desistiu de si. Abandonou-se e saiu por aí. O homem buscava algo diferente, mesmo que não fosse novidade. Ele tinha adquirido maturidade. Não sabia se era cedo ou se era verdade, mas não tardou pro homem se sentir só. E o homem saiu em busca dele mesmo. O homem se procurava nos outros. Os outros não se preocupavam. Mal sabia onde estava, nem se aquele lugar que ocupava estava mesmo vazio. Aquilo já o havia enchido, mas não lembrava por que havia partido.

O homem se permitiu encontrar, mas guardou segredo. O que ele encontrava na sua sombra não o deixava seguro, era apenas o medo. O medo de ser seu abandono, medo de nem ser seu próprio dono. As luzes da sociedade sempre o fizeram brilhar, mas assim sua sombra não existia. Sem ela não tinha companhia. Todos os abraços e apertos de mão não o satisfaziam. Sorrisos, amigos e sinceridade: pra ele uma grande utopia. Nada era tão verdadeiro quanto seu sonho, mas a realidade o deixava acordado e alerta. Por tanta insegurança, não dormiu ali com a porta aberta.

Tudo que o homem queria era um lugar, um lar. Um local onde pudesse descansar, talvez até orar e chorar. Relaxar as tensões que o consumiam, sem se preocupar com o que aconteceu ali durante o dia. Queria ver somente quem quisesse e sorrir com vontade. Mas tudo que conseguia era um sorriso covarde e que não partia de ambas as partes. Ali não estava bom, lá nunca esteve e quem sabe onde estará? Onde seria o ponto a chegar? O homem sabe todas as respostas, só não sabe como praticar.

O homem pensa no passado, reencontra seus futuros e não dá nenhum presente. Só se faz ausente e insistente, mesmo quando tudo dá errado. E não adianta dizer que já tinha avisado, ou alertado. Nada o deixaria ali sentado, calado e vencido. Antes que alguém lhe dissesse que não deveria, outra vez, ele já tinha saído.

O homem deixou seu recado: ele ainda tem sentimentos, seu coração ainda dói. Mesmo que o vissem forte, mesmo que o vissem como um herói. Não há nada mais humano que a dor, principalmente quando é sua fé que a constrói. E quando sua fé se vai e não o leva, você não fica pra lamentar. Você simplesmente se deixa partir. Cata seus pedaços e reparte com quem encontrar pra dividir. O homem só não sabe até quando irá resistir. Ele ainda não sabe até quando a dor irá existir.

* Analista de sistemas

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