
Preservação da correspondência
As cartas escritas por ou recebidas pelos escritores são, via de regra, importantes documentos para os pesquisadores, em sua análise sobre suas biografias e suas obras. Tornam-se mais valiosas ainda quando envolvem colegas de atividades. Nelas, obtêm-se informações que, costumeiramente, não se encontram em outras fontes. Há, por exemplo, relatos de projetos de livros, que mais tarde se tornam grandes sucessos, antes mesmo de sequer serem escritos, ou impressões sobre lugares visitados, pessoas encontradas etc.etc.etc.
Na era dos e-mails, teoricamente essa correspondência torna-se mais fácil de ser preservada. Mas muito teoricamente. Afinal, nem todos os escritores têm o cuidado de guardar as mensagens eletrônicas que enviam e que recebem. Isso traz inconvenientes não só para os futuros pesquisadores das suas vidas e obras, mas também para eles próprios.
O ideal é que façam periódica triagem da sua correspondência e que, a que lhe parecer relevante, salvem em uma pasta apropriada (não do Outlook, mas do Word), para consultas (suas e/ou alheias) futuras.
Os escritores mais organizados certamente classificarão devidamente esses e-mails, distinguindo os enviados dos recebidos. E em cada um deles, digitarão, antes de salvar, a data e o horário de recebimento (ou de envio, quando for o caso). Além disso, nomearão cada um desses arquivos com o nome do destinatário (ou do remetente, quando for o caso).
Este Editor obteve informações preciosíssimas sobre vários escritores analisando sua correspondência. De alguns, ela já está reunida em livros, o que facilita demais a consulta. É o caso de Dostoievski, por exemplo. Há alguns anos, foi lançado, no Brasil, um grosso volume contendo as cartas que esse escritor recebeu e enviou para parentes, amigos e conhecidos.
Por meio delas, por exemplo, fica-se sabendo o que o inspirou a escrever seu extraordinário romance “Crime e Castigo”, meses antes dele sequer começar a escrevê-lo. Sabe-se como foi sua vida na Sibéria, na prisão em que foi mantido por longos e difíceis cinco anos. Constata-se a obsessão que Dostoievski tinha pelo jogo. Afinal, foram inúmeras as ocasiões em que perdeu a totalidade do fruto do seu talento e trabalho nas roletas de cassinos de toda a Europa, notadamente nas de Montecarlo, no Principado de Mônaco.
A leitura da correspondência nos permite conhecer o perfil preciso de um escritor, suas idéias abortadas, as bem-sucedidas, suas preferências, suas aversões, enfim, como ele era de fato, sem nos restringirmos à sua imagem pública, via de regra maquiada.
Não faz muito, foi publicada a correspondência de Mário de Andrade. Antes de morrer, ele deixou instruções específicas para que essas cartas fossem divulgadas, apenas, cinqüenta anos após sua morte. E os editores respeitaram sua vontade.
Lendo essas cartas, no entanto, não se compreende a razão dele haver manifestado esse desejo. Nelas não há nada de escandaloso ou de bombástico ou, pelo menos, nada a mais do que se conhece a seu respeito por outros meios.
Ler a correspondência dos “ases” da Literatura mundial, no entender deste Editor, não significa invadir sua privacidade ou bisbilhotar sua intimidade, como muitos entendem. Seu talento e seu sucesso tornam-nos figuras públicas de interesse geral. E suas cartas deixam de ser, por conseqüência, mera troca de informações particulares entre parentes e amigos, para se constituir em valiosos documentos sobre determinadas personalidades e seu tempo, que servirão de referenciais aos futuros escritores.
Boa leitura.
O Editor.
As cartas escritas por ou recebidas pelos escritores são, via de regra, importantes documentos para os pesquisadores, em sua análise sobre suas biografias e suas obras. Tornam-se mais valiosas ainda quando envolvem colegas de atividades. Nelas, obtêm-se informações que, costumeiramente, não se encontram em outras fontes. Há, por exemplo, relatos de projetos de livros, que mais tarde se tornam grandes sucessos, antes mesmo de sequer serem escritos, ou impressões sobre lugares visitados, pessoas encontradas etc.etc.etc.
Na era dos e-mails, teoricamente essa correspondência torna-se mais fácil de ser preservada. Mas muito teoricamente. Afinal, nem todos os escritores têm o cuidado de guardar as mensagens eletrônicas que enviam e que recebem. Isso traz inconvenientes não só para os futuros pesquisadores das suas vidas e obras, mas também para eles próprios.
O ideal é que façam periódica triagem da sua correspondência e que, a que lhe parecer relevante, salvem em uma pasta apropriada (não do Outlook, mas do Word), para consultas (suas e/ou alheias) futuras.
Os escritores mais organizados certamente classificarão devidamente esses e-mails, distinguindo os enviados dos recebidos. E em cada um deles, digitarão, antes de salvar, a data e o horário de recebimento (ou de envio, quando for o caso). Além disso, nomearão cada um desses arquivos com o nome do destinatário (ou do remetente, quando for o caso).
Este Editor obteve informações preciosíssimas sobre vários escritores analisando sua correspondência. De alguns, ela já está reunida em livros, o que facilita demais a consulta. É o caso de Dostoievski, por exemplo. Há alguns anos, foi lançado, no Brasil, um grosso volume contendo as cartas que esse escritor recebeu e enviou para parentes, amigos e conhecidos.
Por meio delas, por exemplo, fica-se sabendo o que o inspirou a escrever seu extraordinário romance “Crime e Castigo”, meses antes dele sequer começar a escrevê-lo. Sabe-se como foi sua vida na Sibéria, na prisão em que foi mantido por longos e difíceis cinco anos. Constata-se a obsessão que Dostoievski tinha pelo jogo. Afinal, foram inúmeras as ocasiões em que perdeu a totalidade do fruto do seu talento e trabalho nas roletas de cassinos de toda a Europa, notadamente nas de Montecarlo, no Principado de Mônaco.
A leitura da correspondência nos permite conhecer o perfil preciso de um escritor, suas idéias abortadas, as bem-sucedidas, suas preferências, suas aversões, enfim, como ele era de fato, sem nos restringirmos à sua imagem pública, via de regra maquiada.
Não faz muito, foi publicada a correspondência de Mário de Andrade. Antes de morrer, ele deixou instruções específicas para que essas cartas fossem divulgadas, apenas, cinqüenta anos após sua morte. E os editores respeitaram sua vontade.
Lendo essas cartas, no entanto, não se compreende a razão dele haver manifestado esse desejo. Nelas não há nada de escandaloso ou de bombástico ou, pelo menos, nada a mais do que se conhece a seu respeito por outros meios.
Ler a correspondência dos “ases” da Literatura mundial, no entender deste Editor, não significa invadir sua privacidade ou bisbilhotar sua intimidade, como muitos entendem. Seu talento e seu sucesso tornam-nos figuras públicas de interesse geral. E suas cartas deixam de ser, por conseqüência, mera troca de informações particulares entre parentes e amigos, para se constituir em valiosos documentos sobre determinadas personalidades e seu tempo, que servirão de referenciais aos futuros escritores.
Boa leitura.
O Editor.
Já houve casos da correspondência ombrear-se em importância com a chamada obra oficial.
ResponderExcluirSe o e-mail já abole, ou quase, a preservação da correspondência, o twitter exterminará, de vez, esse tal diálogo que, em muitos casos, gerou obras preciosas. O que faremos, caro Pedro? Socorro!
ResponderExcluirAmigo Daniel, a mesma tecnologia que nos facilita a vida nos expõe a uma série de inconvenientes. Pense na seguinte hipótese: a de todos os livros do mundo serem digitalizados e todos os volumes em papel serem destruídos, para desocupar espaço. De repente, a rede mundial de computadores pode vir a sofrer uma pane (a radioatividade tem o poder de apagar todas as memórias de computadores). O que acontecerá com a cultura, com o conhecimento e com a literatura? Se tudop isso ocorrer (espero que não ocorra), retroagiremos à barbárie. Deus que nos livre!
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