quinta-feira, 7 de outubro de 2010


Surpresa (positiva) do Nobel

A Academia Sueca surpreendeu, positivamente, o mundo literário, ao anunciar, neste 7 de outubro de 2010, a outorga do Prêmio Nobel de Literatura ao peruano Mário Vargas Llosa. A notícia caiu como uma bomba nos meios culturais e até políticos, principalmente da América Latina. O presidente do Peru, Alan Garcia, por exemplo, não cabe em si de orgulho e euforia. E não é para menos.
Foi uma baita surpresa gostosa para quem ama e entende de literatura! Para mim foi. O nome de Vargas Llosa não era nem cogitado como possível premiado neste ano. Foi em tantas outras oportunidades, e tantas vezes as expectativas foram frustradas, que agora ninguém cogitava que viesse a ter sucesso. Entre os escritores latinos (todos de língua espanhola), estavam cotados ao prêmio o argentino Juan Gelman, o mexicano Carlos Fuentes, o paraguaio Nestor Amarilla e os espanhóis Javier Marias e Juan Marsé.
Ninguém, em momento algum, portanto, citou o nome de Vargas Llosa sequer como candidato ao prêmio, quanto mais como favorito e muito menosd como o ganhador. Na quinta-feira passada escrevi como as casas de apostas da Europa, notadamente as de Londres, encaravam o Nobel de 2010.
Na tradicional Ladbroke, os apostadores investiam pesado em quatro poetas que eram tidos e havidos como favoritos: o sueco Tomas Transtromer (o mais apostado), o polonês Adam Zagjewski, o sul-coreano Ko Un e o sírio Ali Ahmad Said, cujo pseudônimo é Adonis. Não creio que alguém haja apostado em Vargas Llosa. Quem deve ter ficado feliz, no caso, é o dono da casa de apostas.
Há anos havia um quase consenso de que esse eclético escritor peruano, de estilo gostoso e de temática original, de 74 anos, lecionando, atualmente, nos Estados Unidos, na Universidade de Princeton, em Nova Jersey, era um dos grandes injustiçados do Nobel. Há vinte anos havia a expectativa do seu talento ser, finalmente, reconhecido pela Academia Sueca. Tardou, é verdade, mas aconteceu. Antes tarde do que nunca.
Ufa!!! Finalmente outro escritor latino-americano foi lembrado e, desta vez, não deu zebra. Há vinte anos que isso não acontecia. A última vez que isso ocorreu foi em 1990, quando o mexicano Octávio Paz foi premiado. Quem me acompanha nestes últimos cinco anos, na internet (e felizmente são muitos), sabe da minha apreciação pelo autor de “A guerra do fim do mundo”. Coincidência ou não, escrevi a seu respeito há menos de um mês, em 13 de setembro, sob o título “Cheiro de best-seller”. Foi quando comentei o lançamento de seu novo livro “El sueño del celta”, mês que vem, na Espanha. Creio que se reunirem todos os textos que já escrevi sobre Vargas Llosa eles perfarão um livro dos mais volumosos. Estou, pois, muito à vontade para festejar esta sua nova conquista.
A concessão do Prêmio Nobel de Literatura ao escritor peruano foi uma decisão tão justa, que um dos primeiros a felicitá-lo foi um de seus mais notórios desafetos (diria, inimigo jurado), Gabriel Garcia Marquez. Ambos estão rompidos desde 1976. Sinceramente, desconheço a razão da ruptura. Sei, todavia, que as coisas chegaram a ficar muito feias entre ambos. Tão feias ao ponto de Llosa e Marquez saírem no tapa, ou seja, trocarem socos, em frente o teatro da Cidade do México.
O escritor colombiano, hoje, porém, foi um dos primeiros, como já informei, a felicitar seu grande desafeto em seu twitter. Escreveu: “Estamos empatados”. Queria dizer com isso que, com a premiação de Llosa, ambos se tornam ganhadores do Nobel de Literatura, mostrando, sobretudo, a excelência da literatura desta nossa tão sofrida América Latina.
Falta, agora, a Academia Sueca ser informada que o Brasil existe, que não é uma ficção, como muitos europeus ainda pensam. E mais, que aqui se faz também literatura, e da boa, e não apenas samba. E que nossos escritores não ficam a dever coisíssima alguma aos nascidos em outras tantas partes do mundo. É uma baita desinformação, quando não ime3nsa sandice, não levar os brasileiros em conta. Nunca foram levados. Será que algum dia serão? Tenho minhas dúvidas.
Gostaria de, na próxima semana, poder estar presente em Porto Alegre, capital do meu Estado natal, num evento relativamente pouco divulgado: “Fronteiras do Pensamento”. Por que? Porque, certamente, a maior atração, disparado, será justamente a presença do novíssimo ganhador do Nobel de Literatura. Bingo! Os promotores do evento deram uma sorte tremenda. Quando convidaram Vargas Llosa, certamente não esperavam que ele fosse o premiado de 2010. Como seria bom poder estar lá, para abraçar um dos meus escritores favoritos e dizer-lhe, de viva voz, o quanto seu sucesso me satisfez e me motivou. Vale, todavia, neste caso, a intenção.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Li "Travessuras da Menina Má", mas não tive peito, embora ainda tenha apetite para ler "Conversa na Catedral". Contaram-me que a narrativa é tão complexa que seria quase impossível lê-la. Uma amiga, por mais de uma vez me falou que tinha sido o melhor livro que ela tinha lido em toda sua vida. Com a premiação, é preciso conseguir ler essa obra prima.

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