segunda-feira, 6 de julho de 2009


Criança como protagonista

São relativamente raros os livros de ficção que tenham crianças como protagonistas centrais dos enredos e não meras figurantes, citadas, apenas, incidentalmente. É verdade que temos personagens infantis marcantes, como Oliver Twist, de Charles Dickens, Tom Sawyer e Huckleberry Finn, de Mark Twain e mais um ou outro, que não me ocorre no momento.
Coincidentemente, de uns meses para cá, todavia, quatro livros, de escritores diferentes – que se não têm crianças como principais personagens, trazem-nas, pelo menos em seus títulos – pontuam a relação de best-sellers. São eles: “A menina que roubava livros”, de Markus Susak; “O menino do pijama listrado”, de John Boyne; “A menina que brincava com fogo”, de Stieg Larsson e “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint’Exupery, uma espécie de clássico que, volta e meia, torna a aparecer nas relações dos livros mais vendidos.
Seria interessante saber a razão da criança não se fazer presente mais amiúde, como protagonista. Será que os escritores, na composição de seus personagens, temem descambar para a pieguice? É que, na maioria das vezes, quando alguém quer retratar um menino ou menina em uma história, atém-se a estereótipos. Confunde juventude com imbecilidade. Esquece-se de como foi quando criança e do que gostava e o que detestava no tratamento que recebia dos adultos.
A criança pode ser personagem fascinante se quem o cria for, de fato, talentoso. O escritor, ao compor determinado personagem, conta com um único parâmetro: ele próprio. Pode até descrevê-lo, no aspecto físico, com perfeição. Mas no que diz respeito ao que pensa e sente e às motivações que movem suas ações pode, apenas, fazer suposições. Ou recuar no tempo e, num rasgo de sinceridade (e de boa memória), reproduzir o que pensaria e sentiria e como agiria nas circunstâncias do enredo. Não conseguimos, por mais que tentemos, penetrar na mente de quem quer que seja, para dali extrair informações. Isso é para lá de óbvio.
Ao tratar de crianças e adolescentes, como protagonistas, em literatura, não podemos nos esquecer do magistral perfil que Machado de Assis traçou de Bentinho e de Capitu na infância de ambos, em “Dom Casmurro”. Mas este, evidentemente, foi um gênio. Ademais, deve ter utilizado muito (se não tudo) da própria experiência. Que é o que recomendo que todo escritor faça para dar a desejável verossimilhança às histórias que engendra e narra.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Tom Sawyer e Huckleberry Finn, assim como o Pequeno Príncipe me encantaram (e ainda encantam). Entre os recentes, A Menina que Roubava Livros foi uma deliciosa surpresa. Aproveito para lembrar os personagens adoráveis de Lobato, além do polêmico (para mim queridissimos) Harry Potter, Hermione e demais crianças de Hagwarts.Abraços e ótima semana, amigo Pedro.

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