

Amigos, até outro dia
* Por Fábio de Lima
Não quero cair no lugar comum. Não quero escrever frases já feitas. Não quero repetir calendários antigos. Querer eu não quero, mas algo tem de ser feito. Olho para meus dedos com suas pontas vermelhas e inchadas. Olho para os meus sonhos cansados e sonolentos. Olho para os meus amores já velhos e distantes. E sabem de uma coisa? Olhar eu nem queria, mas algo tem de ser feito.
Ontem à tarde, colhi umas flores aqui no jardim de casa e me sujei todo de terra. Hoje eu olhei para o céu e vi uma cor que eu não deveria ver. Amanhã quero jogar futebol de botão como antigamente e comer uma paçoca depois do almoço. E vocês nem sabem. Eu nem gosto de contar os dias, mas algo tem de ser feito.
Minha namorada está grávida, mas o filho não é meu. Minha namorada vai casar, mas não é comigo. Minha namorada mudou-se para Paris e eu nunca fui passear na Europa. É tudo tão recente em meu passado. É tudo tão velho eu meu presente. Estou pensando em escrever um livro sobre tudo isso. Eu nem me considero escritor, mas algo tem de ser feito.
Quando eu levanto da cama me sinto surpreso por ainda estar vivo. Quando eu ando pelas estradas vejo um cadillac vermelho me seguindo. Quando eu me olho no espelho vejo um ator canastrão diante de mim. E minha dor é um palco. E minha vida é um palco. E meu mundo é um palco. Vou lhes dizer, embora não acreditem, eu não sou um ator, mas algo tem de ser feito.
Todos os quadros e diplomas pendurados nas paredes do escritório estão tortos. Todas as ruas e avenidas em que caminho estão, precisamente, tortas. Todas as minhas ideias, meus planos, e meus nós de gravata, que me enforcam pelas manhãs de verão, estão tortos. E eu não sou rebelde com causa ou sem, mas algo tem de ser feito.
Fui beber água no rio e ele secou. Fui arrancar os espinhos da rosa e eles furaram meu coração. Fui construir um lugar seguro na areia da praia e me perdi no vento. Eu não sou Edgar Allan Poe! Eu não sou Maria, a louca! Eu não sou Robert Alexander Schumann! E se eu soubesse quem sou talvez não estivesse aqui bêbado de ilusão e incertezas, mas algo tem de ser feito.
Semana que vem estou indo embora. Mês que vem vou embora de novo. Ano que vem vou embora outra vez. Não, não perguntem de mim. As minhas cartas guardadas na gaveta contarão notícias. As minhas canetas largadas pela casa contarão notícias. As folhas de papel amassadas no cesto do lixo contarão notícias. Eu nem deveria dizer nada. Eu nem deveria falar sozinho. Eu nem deveria adoçar minhas lágrimas, mas algo tem de ser feito.
AMIGOS DO LITERÁRIO, COM ESSE TEXTO ME DESPEÇO. DEPOIS DE TRÊS ANOS, PRECISO IR. DEIXO MEU AMOR, MINHAS ILUSÕES E UM PEDAÇO DE MIM POR AQUI. O RESTANTE LEVO COMIGO ACOMPANHADO DE SAUDADE. AMIGOS, ATÉ OUTRO DIA.
Por Fábio de Lima, 05 de julho de 2009, às 7h57.
* Jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
* Por Fábio de Lima
Não quero cair no lugar comum. Não quero escrever frases já feitas. Não quero repetir calendários antigos. Querer eu não quero, mas algo tem de ser feito. Olho para meus dedos com suas pontas vermelhas e inchadas. Olho para os meus sonhos cansados e sonolentos. Olho para os meus amores já velhos e distantes. E sabem de uma coisa? Olhar eu nem queria, mas algo tem de ser feito.
Ontem à tarde, colhi umas flores aqui no jardim de casa e me sujei todo de terra. Hoje eu olhei para o céu e vi uma cor que eu não deveria ver. Amanhã quero jogar futebol de botão como antigamente e comer uma paçoca depois do almoço. E vocês nem sabem. Eu nem gosto de contar os dias, mas algo tem de ser feito.
Minha namorada está grávida, mas o filho não é meu. Minha namorada vai casar, mas não é comigo. Minha namorada mudou-se para Paris e eu nunca fui passear na Europa. É tudo tão recente em meu passado. É tudo tão velho eu meu presente. Estou pensando em escrever um livro sobre tudo isso. Eu nem me considero escritor, mas algo tem de ser feito.
Quando eu levanto da cama me sinto surpreso por ainda estar vivo. Quando eu ando pelas estradas vejo um cadillac vermelho me seguindo. Quando eu me olho no espelho vejo um ator canastrão diante de mim. E minha dor é um palco. E minha vida é um palco. E meu mundo é um palco. Vou lhes dizer, embora não acreditem, eu não sou um ator, mas algo tem de ser feito.
Todos os quadros e diplomas pendurados nas paredes do escritório estão tortos. Todas as ruas e avenidas em que caminho estão, precisamente, tortas. Todas as minhas ideias, meus planos, e meus nós de gravata, que me enforcam pelas manhãs de verão, estão tortos. E eu não sou rebelde com causa ou sem, mas algo tem de ser feito.
Fui beber água no rio e ele secou. Fui arrancar os espinhos da rosa e eles furaram meu coração. Fui construir um lugar seguro na areia da praia e me perdi no vento. Eu não sou Edgar Allan Poe! Eu não sou Maria, a louca! Eu não sou Robert Alexander Schumann! E se eu soubesse quem sou talvez não estivesse aqui bêbado de ilusão e incertezas, mas algo tem de ser feito.
Semana que vem estou indo embora. Mês que vem vou embora de novo. Ano que vem vou embora outra vez. Não, não perguntem de mim. As minhas cartas guardadas na gaveta contarão notícias. As minhas canetas largadas pela casa contarão notícias. As folhas de papel amassadas no cesto do lixo contarão notícias. Eu nem deveria dizer nada. Eu nem deveria falar sozinho. Eu nem deveria adoçar minhas lágrimas, mas algo tem de ser feito.
AMIGOS DO LITERÁRIO, COM ESSE TEXTO ME DESPEÇO. DEPOIS DE TRÊS ANOS, PRECISO IR. DEIXO MEU AMOR, MINHAS ILUSÕES E UM PEDAÇO DE MIM POR AQUI. O RESTANTE LEVO COMIGO ACOMPANHADO DE SAUDADE. AMIGOS, ATÉ OUTRO DIA.
Por Fábio de Lima, 05 de julho de 2009, às 7h57.
* Jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
Eu estava pressentindo isso, estava mesmo. Se tem mesmo de ir, que se há de fazer? Mas voltará, que vc sabe o caminho. De qquer forma, leve meu abraço e a certeza de que muito nos emocionou com seus textos confessionais. Sempre às terças, mas agora ... Haverá uma lacuna, uma cárie difícil de preencher, pq ninguém (e vc muito menos, caro Fábio!) é substituível. Boa sorte na nova caminhada. É o que te deseja o amigo Daniel.
ResponderExcluirQuando viramos uma página temos a certeza de vislumbrar uma outra. Um dia não haverá página alguma, apenas a escuridão. Enquanto a morte não chega, é bom viver novas vidas, uma a cada época. Aprendi a me emocionar nas terças-feiras com as suas paixões, Fábio. "Mas algo tem de ser feito", e os seus afazeres serão por ora noutros lugares. Boa sorte!
ResponderExcluirAté, Fábio !
ResponderExcluirQualquer dia a gente vai se encontrar.....
Daniel, Mara e Celamar, muito obrigado pelo carinho, tá? Não esquecerei. Deixo minhas lembranças aqui também para a Evelyne, a Risomar e o Pedro, pessoas com quem sempre tive mais contato no Literário, do atual time que aqui está. 08 mil beijos pra todos vocês.
ResponderExcluirBom, Fábio, agora que você saiu, vou voltar. Que é só pra encher sua paciência. E tem mais: você não teria a menor chance numa partida de botão. Até mais.
ResponderExcluirFábio cheguei atrasada e surpresa lamento sua saída. Lamento, mesmo. Mas lhe desejo um caminho bonito. Beijos e boa sorte.
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