Podemos
sonhar alto?
Um leitor pergunta-me,, em tom claramente provocativo, o
quanto nós, escritores do Terceiro Mundo, desta segunda década do terceiro
milênio da Era Cristã, podemos sonhar. “Algum de vocês (ou todos vocês) espera,
por exemplo, ganhar um Prêmio Nobel de Literatura?”, indaga.
Bem, sonhar não paga imposto (não, pelo menos, ainda). Em
teoria, desde que estejamos vivos (e estamos), produzindo obras literárias de
certo valor (o que, convenhamos, é bastante subjetivo), temos alguma chance de
conquistar esse feito, posto que remota, ínfima, remotíssima é verdade. A
probabilidade disso acontecer é, eu diria, de uma em um trilhão (sendo bastante
otimista). Mas... mesmo que apenas teoricamente, ela existe.
Ou por acaso, querido e provocativo leitor, você acha que os
111 escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura, desde que foi criado,
não eram humanos, mas deuses do Olimpo? Todos eles tiveram um começo igualzinho
ao nosso. Muitos deles conviveram com o fracasso por anos a fio, até tirarem a
“sorte grande” (e põe grande nisso!). Ou você acha que nenhum deles jamais
passou pela decepção de um grande encalhe em algum livro publicado? Ou que não
foram duramente criticados (diria, verbalmente “surrados”) por críticos
mal-humorados e com pose de gênios? Claro que sim!
Você dirá: “É, mas nenhum brasileiro ainda foi premiado”. E
estará certo em sua observação. No entanto, tudo na vida sempre tem uma
primeira vez. E você tem certeza, mas certeza mesmo, que você não venha a se
constituir nesse pioneiro (caso seja escritor, claro e que pelo menos escreva
bem)? Ou que algum parente ou conhecido seu não logrará essa façanha? Ou que
este excêntrico redator, um tanto fora do esquadro, não o faça?
Claro que essa possibilidade é tão ínfima, que sua simples
menção descamba para o surreal. Mas que existe, mesmo havendo uma única
probabilidade em um trilhão, existe. Claro que sua pergunta foi provocativa,
provavelmente um trote. Mas foi tão “nonsense” que até merece uma resposta.
Você sabe como ocorre o processo de escolha do premiado? Grosso
modo, é o seguinte: alguma organização de prestígio internacional faz a
indicação do escritor que entenda mereça o prêmio, acompanhada, claro, de todos
os livros que ele já publicou e de um detalhadíssimo currículo dele. Esse material
todo é encaminhado à Academia Sueca, que recebe milhares dessas postulações a
cada ano.
Uma comissão, composta, na grande maioria, por
septuagenários – não faz muito presidida por um homem de 58 anos, o senhor
Horace Engdahl (nem sei se ainda é ele) – faz uma pré-seleção dessas indicações
(cujos critérios só seus membros sabem quais são) e classifica os cinco com
maiores chances de vencer.
Feito isso, o grupo entra de “férias”. Mas não para
descanso. Afasta-se de tudo e de todos para ler todos os livros dos cinco
selecionados. Feita essa leitura, esses jurados voltam a se reunir. Sua
quantidade é em número ímpar. E eles votam. O mais votado, é anunciado como o
grande ganhador do Prêmio Nobel de Literatura do ano, anúncio este que é feito
na primeira quinzena de outubro. Simples assim.
Quem sabe, um dia, você não será um deles?! Vai saber o que
se passa na cabeça desses (para nós) anônimos jurados! Por isso, caro amigo,
não custa sonhar. Não desista dos sonhos. E, quanto mais altos, melhor. Afinal,
o que você tem a perder? Trata-se, somente, de sonho... ou quase...
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Há críticos que se julgam muito mais do que ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura, mas até mesmo os julgadores dos futuros premiados. Será que algum deles pensa em ganhar o prêmio, ou isto está fora de cogitação?
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