Audiência
de TV
* Por Rosana
Hermann
Existe um grupo de garotos menores de
idade que são totalmente viciados em Ibope. Isso mesmo, viciados. Totalmente
loucos, alucinados, dependentes químicos desses números que medem a audiência
dos programas de televisão, eles se dividem em ‘sbtistas’ e ‘globistas’ segundo
os próprios. Não sei se existem ‘recordistas’ entre eles mas se não existem,
breve ai, eles. Redetevistas eu sei que não tem nenhum, certamente.
Esses garotos, que não saem do MSN e
dos fóruns sobre televisão, disputam a tapas, unhadas e até pequenos subornos o
acesso aos números do Ibope que, em princípio, é restrito às emissoras e
eventualmente, grandes celebridades que pagam para ter um terminal
minuto-a-minuto em tempo real em suas nababescas mansões.
Dia desses, conversando com um colega
profissional de televisão, soube que um deles, desesperado atrás de um link na
rede que pudesse oferecer os números em ‘real time’ chegou a dizer que ele
precisa do Ibope como um faminto precisa de comida. Fiquei chocada. A pergunta
é .. pra quê um garoto de 13, 14 anos, precisa desesperadamente dos números da
audiência dos programas de tv? Por que essas medições, que só serviriam para
anunciantes, diretores e profissionais da área, teriam se tornado vitais para crianças
que são apenas telespectadores? Será que eles transformam os programas em
cavalinhos de corrida que competem pelo primeiro lugar? Eles apostam? Ou são
apenas maluquinhos?
Não compreendo e acho que não faz
sentido tentar. Fato é que o Ibope para quem é ou não do ramo, torna-se um
vício enlouquecedor. Acompanhar os números pela tela, enquanto a programação
está no ar é um ato doentio. Isso, sem mencionar a crueldade que o ibope impõe
em muitos casos de programas de variedades ao vivo. Tem convidado que fica
horas esperando e acaba não entrando, simplesmente porque a outra atração está
dando mais Ibope. Já fui uma dessas vítimas. Lembro de um finado programa
vespertino para o qual fui convidada a contragosto, cujo produtor me fez
esperar mais de três horas para, ao final, ser avisada que eu não entraria
porque uma receita de torta de palmito estava com audiência muito alta. Virei
as costas e fui embora com aquele sentimento de humilhação que só os
profissionais trocados por tortas salgadas são capazes de compreender. Se ao
menos fosse um cheese cake, vá lá.
O monopólio da medição, o destaque que
a mídia dá para os resultados numéricos e nossa paranóia humana de medir e
comparar aumentam nossa loucura por esses malditos números. Que transformam a
criatividade em inimiga, que nos rouba a capacidade de ousar, que enfim,
glorifica a cópia de programas já testados em detrimento do novo e do original.
*Rosana Hermann
é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão,
humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora
de televisão.
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