O discípulo
* Por
Catule Mendés
Buda, em êxtase, a mão nos artelhos, medita.
--- “O que a carne domina e os desejos sopita,
grave, lhe fala Purna, é leve como o vento
que corre o espaço azul de todo o firmamento...
Aos roldões dos incréus, vingando os escalvados
montes, transpondo a nado os rios, a afastados
países, para o mal tirá-los, e, libertos,
mostrar-lhes o Nirvana os caminhos abertos,
ó Mestre, eu levarei o teu dogma da paz!
--- “Se esses – torna-lhe Buda –, incrédulos,
infiéis
ultrajam-te de injúria e apodos, que dirás?”
--- “Que esses homens não são perversos nem cruéis;
não encheram de areia os meus olhos, nem mãos,
pois nenhum me correu a murros e calhaus”.
--- “Mas, se ousam agredir à pedra e bofetão?”
--- “Não serão contra mim, tendo as mãos ocupadas
em bater-me, os bordões, nem as suas espadas”.
--- “Se te ferem a ferro as carnes, devagar?”
--- “Em ferir-me são bons, podendo me matar”.
--- “Se te matam, por fim?”
--- “Feliz é de quem morre!”
Torna-lhe Buda, então:
--- “Vai, liberta, socorre”.
Tradução de Carlindo Lellis.
*
Poeta francês do século XIX
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