O indivíduo e a sociedade
* Por
Roberto Corrêa
Nascemos e morremos
indivíduos. Ninguém vai à maternidade para visitar “a nova sociedade” que
nasceu. O povo também não nasce e não morre como os indivíduos. Nunca se ouviu
dizer que alguém tenha ido ao enterro de “um povo”. Precisamos, pois, clarear
as idéias e deixarmos de ser apologistas da sociedade e do povo.
Necessitamos, com
urgência, redescobrir o indivíduo, porque é a base de tudo: a célula, o átomo,
o embrião, a origem. “Nosce te ipsum”, conhece-te a ti mesmo, sugerido por
Sócrates uns 600 anos antes de Cristo, sempre foi importante, mas se encontra
atualíssimo, porque hoje poucos conhecem alguém e menos ainda a si próprio.
A agitação da vida
moderna, o consumismo exagerado, o domínio da máquina, o lazer infrutífero e
banal, a deteriorização da racionalidade e consequentemente da religião,
tornaram o homem um mecânico, o protótipo dos robôs, um “software” de
computadores. O indivíduo desapareceu nessa massa cósmica incongruente,
surgindo a sociedade, o povo despersonalizado e amorfo.
Elucubradores espertos,
prestidigitadores da escrita e da palavra, corporificaram a sociedade e o povo
como entidades máximas, a quem – o desprezível e ignoto indivíduo -, se subsume
como única esperança da salvação próxima e glória da coletividade. Essas
inclinações para a supervalorização do conglomerado social motivaram a falsa
tese do igualitarismo, ou seja, que todos somos iguais, inclusive quanto à
posse ou propriedade dos bens materiais. É a doutrina comunista, em explicação
simples, que não pode vingar, mas que ainda procura sobreviver graças aos seus
fiéis e abnegados propugnadores.
“O indivíduo reduzido a
pó de traque, amordaçado e subjugado pelos ‘guardiões do povo’ e da
coletividade,” come o pão que o diabo amassou, porque, desconhecendo-se a si
mesmo, não percebe as potencialidades que traz em seu íntimo e que o pode
elevar às alturas de uma existência com ideal elevado, própria de seres
racionais, criados para vida feliz e maravilhosa.
Precisamos colocar as
coisas em seus devidos lugares: o indivíduo é anterior à sociedade, criada por
ele para servir e facilitar a vida em agrupamentos, pequenos ou grandes. A
sociedade não pode ser considerada como “ente de carne e osso”, pois é abstrata
como o “povo” e ambos – sociedade e povo -, só têm utilidades e merecem
respeito quando valorizam o indivíduo, principalmente socorrendo-o nas
necessidades e deficiências.
O “nosce te ipsum”
precisa ser relembrado, estudado e meditado com freqüência, porque, do conhecimento
próprio – principalmente das falhas e defeitos -, é que poderão sair as
correções e, com isso, o aperfeiçoamento, meta primária ou primordial de todo
ser humano.
* Roberto
Corrêa é membro do Instituto dos Advogados
de São Paulo, da Academia Campineira de Letras e Artes, do Instituto Histórico,
Geográfico e Genealógico, de Campinas, além de diversos clubes cívicos e
culturais, também de Campinas. Formou-se
pela Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Fez pós-graduação em Direito Civil pela USP e se aposentou como
Procurador do Estado. Dedica-se a escrever artigos ou crônicas sintéticas,
bem ao gosto dos leitores dos dias atuais. Católico tradicional, procura
encaixar conceitos da filosofia tomista que dignificam o homem, objetivando sua
felicidade a partir deste conturbado mundo. É autor de vários livros, entre
eles "Caminhos da Paz", "Direito Poético", "Vencendo
Obstáculos", "Subjugar a Violência”,Breve Catálogo de Cultura e
Curiosidades.
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