Máscara-objeto
*
Por Eduardo Oliveira Freire
Não
acredito, não pode ser. Deixei minha máscara em casa. Por isso que
estão me olhando estranho. Estão me vendo como sou realmente.
Olham-me assustados, com desprezo e ódio. Como isto pôde acontecer?
Sou o único sem máscara que anda pela rua.
Nunca
a esqueci, vivo com ela grudada em mim, no banho,
principalmente. Mas, hoje, tudo foi bastante estranho. Acordei super
atrasado. Pulei da cama e me arrumei correndo, nem tomei banho.
Isto nunca aconteceu comigo…
Estou
completamente exposto, parece que os transeuntes estão tendo acesso
aos meus pensamentos mais profundos. Preciso voltar e pegar minha
máscara. Estou com tanto medo, que não consigo me mover, além, de
parecer uma gelatina de tanta tremedeira. Não gosto desta sensação
de fragilidade, quando uso a máscara, ficou no controle.
Uma
criança me aponta e diz para mãe: " Aquele homem está sem
máscara, ele é maluco, mamãe?". Não, eu não sou doido, só
esqueci de colocá-la. Será que irão me enfiar numa camisa de
força? Sou um bom cidadão que trabalha, que paga imposto, só
cometi o deslize de esquecer minha máscara em casa.
Ninguém
percebe que ainda sou uma pessoa? Parece me veem como uma coisa
amórfica. Tenho que fugir! Espera, lembro-me que meu avô me disse
que dentro da gente há uma coleção de máscaras. Não
precisamos da máscara-objeto para representar nosso papel.
Bem, todos diziam que o vô era caduco. Mas, não custa tentar.
Ele
disse que precisa se concentrar muito. Vamos lá... Cadê vocês? Só
vejo escuridão, preciso
relaxar. De repente, a cidade se cala e o silêncio se comunica
comigo. Começo a
ver várias máscaras. Com pode existir tantas dentro de mim? Vou
escolher uma, peguei! Tudo volta ao normal.
As
pessoas não me olham mais. Sou mais um mascarado na multidão, que
bom. A vida que segue. Quando voltar para casa, jogarei a
mascara-objeto fora, não preciso mais dela.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo
cultural
e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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