Imagem
de Montes Claros em 1897
*
Por Mara Narciso
Quando
Dário Teixeira Cotrim, atual presidente do Instituto Histórico e
Geográfico de Montes Claros, apresentou o livro Corografia Mineira,
Município de Montes Claros, do Desembargador Antônio Augusto
Velloso, que ele organizou e publicou, despertou a atenção, por ser
a primeira obra sobre a História Política e Administrativa da
cidade. Corografia é o mesmo que monografia, uma descrição
completa.
Coronel
Lázaro Francisco Sena, mentor da ideia e Dário Cotrim, o executor,
foram felizes na decisão e no resultado. Rogério Othon achou os
originais no Arquivo Público Mineiro em Ouro Preto e depois a dupla
de pesquisadores encontrou mais dois exemplares entre os livros de
Simeão Ribeiro, patrono do Instituto.
O
livro Chorographia
Mineira – O Município de Montes Claros, originalmente publicado em
fascículos no Correio do Norte foi republicado em seu formato
original, com acréscimos sobre o autor, nome importante para a Rua
Dr. Velloso. Antônio Augusto Velloso nasceu em Montes Claros em 31
de outubro de 1856. Fez o curso primário na cidade natal, quando
aprendeu rudimentos de Latim que mais tarde dominaria, tendo feito
aos 20 anos a premiada “Tradução Literal das Odes de Horácio”.
Em 1870 foi estudar Humanidades em Diamantina. Devido à febre
amarela, não pôde ficar no Rio de Janeiro, indo completar os
estudos em Petrópolis. Depois, em São Paulo, formou-se bacharel em
Ciências Jurídicas e Sociais, no ano em que escreveu a Corografia –
1897, de 38 páginas em letra miúda.
O
detalhamento da obra remete a um livro de vulto, Os Sertões, de
Euclides da Cunha. Aqui, o Desembargador explica as condições dos
terrenos do município, com suas características minerais – ouro,
diamante, ferro, calcário - e geográficas, sua vegetação, capins,
flores, madeiras, e frutas, explicitando seus usos medicinais e
industriais para borracha e tintura de tecidos. Dos frutos do mato
cita pequi, araçá, murici, mangaba e outras, e surpreende ao falar
das promissoras culturas de arroz, algodão, trigo, cevada e linho.
Descreve
rios, lagoas e peixes, chuvas e alagados, causadores de insalubridade
e mortes pelas febres, e ações governamentais para drená-los.
Naquela época existia a crença na “geração espontânea”,
ciência fantasiosa que acreditava que animais poderiam surgir do
nada. Conta das florestas fechadas e dos animais pequenos e grandes,
inclusive onças. Explicita insetos, os de natureza econômica, como
abelhas, os répteis, anfíbios e até sanguessugas. Como na arca de
Noé, nenhum fica de fora.
Fala
das gentes e das características raciais e de índole, dizendo ter
poucos estrangeiros. Menciona edificações, igrejas e jurisdições,
detalhando leis e datas, ajuntamentos e divisões de municípios,
sendo uma obra para quem quer saber de onde veio. Então fala da
educação, comércio, indústria e transporte por tropas de burros e
carros de boi. Os caminhos eram abertos pelos animais. A
estrada de ferro era uma promessa e os rios as vias habituais. A nove
Km havia a Fábrica de Tecidos do Cedro, “tendo um pessoal de
oitenta operários, pela maior parte orphãos e menores desvalidos,
além de outros empregados externos”. Fala de cifras em Mil Reis,
ações individuais e governamentais, e, exceto as feiras e a
algazarra, não detalha hábitos sociais, apenas que havia três
igrejas e 35 escolas primárias, sendo seis urbanas. Dos cinco mil
habitantes estimados, a maioria sabia ler, e “o número dos
analphabetos, pela maior parte se contam na população rural e entre
os indivíduos originários das extintas classes dos libertos e
ingênuos”.
Depois
de percorrer em escrita antiga, respirando a nossa História em seus
primórdios, podem-se esclarecer equívocos. O primeiro nome de
Montes Claros foi Fazenda Montes Claros, depois de 1707. Em 13 de
outubro de 1831 o vizinho Arraial de Formigas virou vila. Não há
data certa de quando se aglutinaram os povoados Montes Claros e
Formigas formando a Villa Montes Claros de Formigas. A primeira
Câmara Municipal foi instalada em 1832, ainda que tenha se tornado
cidade de Montes Claros em três de julho de 1857, assim, o nome
anexo “de Formigas” durou 25 anos. A Corografia é um encontro
feliz com as profundas raízes montes-clarenses, tão real quanto uma
apresentação de cinema em 3D.
Fotos
Arquivo Maria da Dores Guimarães Gomes
*
Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
Acho que já disse isso em outra ocasião - seus relatos instigam a conhecer Montes Claros. Sem dúvida, uma cidade com muita história já contada e mais ainda a contar. Abraços, Mara.
ResponderExcluirVem cá nos visitar!
ResponderExcluir