Liberdade
de Expressão
*
Por José Calvino
“...
Mas o desespero é tamanho, que quando sonhei, pensei que estavam
mijando petróleo.”
Joseph
Ratzinger (o papa Bento XVI) renunciou ao papado declarando que o
fazia “pelo bem da igreja”, mas será que não foi por ter dito
ao clero que “estariam instrumentalizando Deus”? Me veio à
memória o caso do padre Vito Miracapillo expulso do Brasil por
vários motivos, entre eles por questionar a “não independência
do povo”, quando em 1980 recusou-se a celebrar a missa de 7 de
setembro. Na ditadura militar teve padres enquadrados na Lei de
Segurança Nacional, que envolveu Estado & Igreja, povo e
autoridades civis e militares. O ex-padre Reginaldo Veloso, por
exemplo, autor do hino “Vito, Vito, Vitória”, em homenagem ao
padre italiano, no ano de 1989, foi suspenso das funções
sacerdotais pelo então arcebispo de Olinda e Recife, dom José
Cardoso Sobrinho. Ex-Pároco do Morro da Conceição, Reginaldo foi
punido por não seguir o pensamento da igreja no estilo romano, mais
centralizada em sua hierarquia e que orientava que padres não se
envolvessem politicamente. Em solidariedade ao religioso, os fiéis
tomaram a chave da igreja cantando:
“ A
chave, a chave, a chave eu não dou, a chave é de Pedro que é
pescador...”
E
foi preciso a polícia intervir, uma vergonha! Na verdade, até hoje
não vejo organização nenhuma que lute pelo estado laico e pela
separação efetiva entre governo e religião.
Quando
publiquei o meu terceiro livro “ O Cristo Mulato”(1982) ele não
agradou, é claro, nem ao governo militar, nem à igreja. Nele, eu
mencionava: “(...) Se o povo soubesse a força que tem, ah! Só
bastaria a metade daquele povo que acompanha o Clube Carnavalesco ‘O
Galo da Madrugada’, que sai do Recife nos carnavais arrebanhando
uma multidão incalculável, para se rebelar contra este
desgoverno...” Fiz também diversos trabalhos no ITER (Instituto de
Teologia do Recife), extinto em setembro de 1989, por decisão do
Vaticano! O instituto foi acusado, pelos setores mais conservadores
da Igreja, de adotar a linha marxista e era voltado à formação com
base na Teologia da Libertação. O ITER foi criado em 1968, não
agradando à “Santa Inquisição”.
Não
pretendo aqui escrever uma obra teológica ou tomar partido em
conflitos religiosos, mas jamais poderei ser privado de minha
liberdade, pois estou escrevendo universalmente com ousadia “Jesus”.
Sem medo, sempre denunciei as injustiças sociais.
Domingo,
17 do corrente, houve um evento promovido nacionalmente pela
Sociedade Livres Pensadores, em Olinda, pregando a maior integração
entre os que vivem o livre pensamento, o respeito, a liberdade de
expressão, etc. Com entrada franca, aproveitei o ensejo e fui
distribuir gratuitamente 50 livretes da dita obra. Pasmem com o que
aconteceu! Na ocasião, fui impedido de exercer meu direito
democrático de divulgar meu trabalho por ateus ignorantes e
preconceituosos igualmente ou talvez pior do que alguns grupos
religiosos. A decepção foi grande. E ainda dizem que são
discriminados. Eu, hein?!
*
Escritor e dramaturgo pernambucano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário