Temer
agrava crise social
* Por
Frei Betto
Depois
de uma década em queda, a pobreza se ampliou no país desde a
recessão iniciada em 2014. De acordo com levantamento do Instituto
de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), pouco mais de 9 milhões
de brasileiros foram empurrados para baixo da linha de pobreza em
2015 e 2016, reflexo da deterioração do emprego e da renda. Desses,
5,4 milhões tornaram-se extremamente pobres (ou miseráveis).
São
dados da “Síntese de Indicadores Sociais”, divulgada em dezembro
pelo IBGE. De acordo com o Banco Mundial e o IBGE, vive na extrema
pobreza quem ganha US$ 1,90 por dia (R$ 133,72 mensais); e na pobreza
moderada quem recebe US$ 5,50 por dia (R$ 387,07 mensais).
Em
2016, 52,2 milhões de brasileiros(as) viviam abaixo da linha de
pobreza, ou 25,4% da população. No caso da pobreza extrema, eram
13,35 milhões de pessoas, 6,5% da população.
Pelos
cálculos do Iets, de 2004 a 2014 o Brasil retirou quase 40 milhões
de pessoas da pobreza. Nem mesmo a crise mundial de 2008, que
provocou pequena e rápida recessão no país, foi capaz de
interromper o processo de redução da pobreza. “O retrocesso
ocorre de 2014 para 2015. É quando a crise [brasileira] começa a
afetar a renda, provocar desemprego e gerar informalidade. Os
empregos perdidos na construção civil, por exemplo, afetaram muitos
trabalhadores”, disse o pesquisador do Iets.
Francisco
Ferreira, economista do Banco Mundial, chegou a conclusões
parecidas. A parcela da população em situação de extrema pobreza
cresceu de 4,1%, em 2014, para 6,5% em 2016. Em entrevista ao
jornal Valor, José Graziano, diretor-geral da FAO, braço da
ONU para alimentação e agricultura, declarou que mais de 7 milhões
de brasileiros, mesmo vivendo em situação de extrema pobreza, não
recebem nenhum tipo de assistência social. O país, advertiu, pode
voltar a integrar o Mapa da Fome Mundial, que a FAO divulga desde
1990.
Em
nosso país, todo dia são jogados no lixo 41 mil toneladas de
alimentos, suficientes para alimentar 25 milhões de pessoas! Um
quarto desse desperdício é culpa do consumidor final. Por isso, é
tão baixo o índice de reaproveitamento feito pelos bancos de
alimentos: apenas 150 toneladas por mês.
Nossas
escolas insistem em ignorar a educação nutricional, e o governo não
delimita a propaganda e venda de produtos que prejudicam a saúde, em
especial a das crianças. A morte não está embutida apenas em maços
de cigarros. Também em refrigerantes, achocolatados, enlatados e
embutidos. Sutil, ela se inicia por nos corroer por dentro, na forma
de perda de vitaminas, obesidade mórbida, debilitação dos ossos,
câncer etc.
No
mundo, a FAO calcula que, todos os dias, 1/3 dos alimentos vai para o
lixo, o que equivale a 3,5 milhões de toneladas.
Esses
dados devem pesar, neste ano de 2018, em nossa consciência de
eleitores.
*
Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou”
(Saraiva), entre outros livros.
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