Ganho e perda de tempo
O
fracasso, em qualquer dos nossos empreendimentos – quer no amor,
quer numa amizade, quer nos estudos, no trabalho, nos esportes etc. –
pode ser classificado como perda de tempo? Entendo que não! Muitos,
no entanto, interpretam como sim. É questão de ponto de vista.
Ponderemos.
Por mais que um determinado insucesso tenha nos machucado, doído e
causado frustrações, ele sempre deixa algum saldo positivo.
Compete-nos procurá-lo atentamente. Ou seja, temos que ser sábios o
suficiente para extrair lições dos nossos erros e fraquezas para
que, com sua devida e competente correção, possamos chegar ao
sucesso: sólido, consistente e duradouro.
Perda
de tempo, na minha visão, é sequer tentarmos conquistar um amor,
por exemplo, ou consolidarmos uma amizade, ou fazermos um curso para
o qual somos potencialmente aptos, ou buscarmos uma promoção
profissional, ou vencermos uma competição esportiva etc.etc.etc.,
tudo por medo de fracassar. Esse temor em si já será um fracasso.
Com a agravante de não termos lição alguma (mesmo que dolorosa ou
vexatória) a extrair.
O
filósofo Francis Bacon faz a seguinte e lúcida constatação a
respeito: “Não há comparação entre o que se perde por fracassar
e o que se perde por não tentar”. A segunda dessas perdas é
infinitamente maior. Salomão já dizia, na sua velhice, depois de
conhecer o máximo do sucesso, ou seja, riquezas, fama, poder, glória
etc., que tudo debaixo do sol tem seu devido tempo: o de nascer e o
de morrer; o de amar e o de detestar; o de agir e o de descansar e
vai por aí afora.
É
uma mensagem direta, simples e até óbvia à qual, no entanto,
raramente atentamos devidamente. Fracassamos, muitas vezes, em nossos
empreendimentos, por querermos colher os frutos prematuramente,
quando estes ainda estão verdes e amarram a boca, tendo um sabor
amargo ou ácido. Deixássemos amadurecê-los e nos deliciaríamos
com sua doçura.
Devemos
ter em mente o tempo certo para realizar o que pretendemos (e saber
fazê-lo, claro). Isso não significa adiar indefinidamente nossas
realizações. Através da intuição, sabemos o momento certo de
agir. O que ocorre é que raramente lhe damos ouvidos.
Há
um outro aspecto a ponderar. A mera preocupação com o futuro, sem a
consequente e posterior ação, no sentido de construí-lo
concretamente, achando que as coisas irão se materializar por si
sós, à nossa revelia, como que num passe de mágica, é uma
estupidez sem tamanho. É assim, todavia, que a maioria age. E os
resultados são, invariavelmente, os previsíveis: fracasso!
Se
quisermos que nossos projetos se concretizem (e isso se os tivermos)
temos que agir nesse sentido. Precisamos estudar, trabalhar e nos
preparar com método, organização e aplicação, dia a dia, anos a
fio, sem nos deixarmos abater pelo desânimo e nem nos submetermos à
sedução da pressa.
Ainda
assim, não há a menor certeza de sucesso (nunca há e para
ninguém). Reitero o que já escrevi inúmeras vezes, mas que é
sempre oportuno relembrar: não temos sequer certeza de que
amanheceremos vivos amanhã, quanto mais sobre os resultados dos
nossos esforços num remoto e nebuloso futuro.
Todavia,
se nos prepararmos adequadamente, se aprendermos todo o conhecimento
a que tivermos acesso, se realmente quisermos, agindo para
concretizar esse querer, nossas possibilidades de sucesso crescerão
exponencialmente. Ele será, pelo menos, mesmo que remotamente,
viável. Afinal, como constatou Francis Bacon, “o futuro do homem
está oculto em seu saber”. E, tenha certeza, pelo menos em termos
potenciais, de fato, está.
Mas
não podemos nos fiar, apenas, na inteligência para tentarmos
concretizar nossos sonhos e projetos. Esta é importante, não há
dúvidas, mas não sozinha. Solitária, ela é inerme e não nos leva
a lugar algum. Precisa do auxílio de uma série de sentimentos e
virtudes que a impulsionem e a façam efetiva.
Por
exemplo, um dos fatores imprescindíveis é a fé em nossas
possibilidades. Se iniciarmos algum empreendimento, não importa
qual, sem acreditarmos no seu sucesso, é melhor que sequer venhamos
a sobrecarregar nossos neurônios e despender energias. Ele estará,
liminarmente, fadado ao fracasso.
Outra
emoção valiosa é a esperança. Mas ela, igualmente, não pode vir
desacompanhada. Deve ser respaldada e complementada por ações que a
viabilizem. Se nada esperarmos da vida, senão seu complemento (a
morte), já estaremos espiritualmente mortos, mesmo que isso não nos
seja aparente.
O
escritor francês, Roger Gard, escreveu: “A inteligência só
conduz à inação. É a fé que dá ao homem o ímpeto indispensável
para agir e o entendimento para perseverar”. Notem que o ilustre
pensador não defendeu a burrice como forma de obter o sucesso. Longe
disso!
Aliás,
nem seria maluco de recomendar uma coisa estapafúrdia dessas. Apenas
ressaltou que a inteligência, sem o respaldo de outras virtudes, é
impotente para promover, sozinha, o êxito que tanto almejamos.
Portanto, amigo leitor, planeje, estude, se prepare, lute e tente.
Aprenda
a se levantar, sempre que cair (e esteja certo de que cairá inúmeras
vezes), e a continuar a jornada. Agindo assim, mesmo que não consiga
o que tanto quer, terá, pelo menos, logrado um feito considerável:
terá construído uma vida exemplar, digna de admiração e respeito.
E isso é ganhar tempo, e com sobras, por sinal!
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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