Controle remoto
* Por Sayonara Lino
Se eu tivesse um controle
remoto que me desse o poder de mudar alguma coisa no mundo, por um
dia que fosse, ampliaria a percepção das pessoas em relação ao
tempo do outro. Sim, porque a falta de noção e respeito em relação
ao momento de cada um são capazes de gerar conflitos.
Existem criaturas muito
rápidas, que acompanham o ritmo do que acontece ao redor. São uma
espécie de canal de TV All News: antenadas, atualizadas, absorvem e
transmitem tudo com rapidez e facilidade, são muito bem informadas e
dão conta do recado. Bacana, admiro e aplaudo. Existem outras que se
parecem muito com os canais de TV voltados à educação e à
cultura, com uma programação mais leve, menos corrida, mais
reflexiva e, em alguns casos, repetitiva. Elas gostam de reprise.
Pois então, existem pessoas com esse ritmo. Existe de tudo, por
sinal.
Quando os frenéticos
encontram os contemplativos, costuma dar problema, o que requer
ajuste e manutenção. Não há nada de errado nem com um, nem com o
outro. Apenas não há sintonia, a frequência é diferente.
Se um ser do tipo
contemplativo leva um baque, costuma ficar fora do ar por uns tempos,
ou cheio de chuviscos que atrapalham a comunicação. Ele pode
continuar levando sua vida, não precisa necessariamente desaparecer
por completo. Talvez fique um pouco mais lento que o habitual,
redundante, menos criativo, mais complexo. Isso pode durar um bocado,
não existe previsão. Um dia tudo passa e ele volta com a
programação renovada, normalmente até mais elaborada e
interessante do que antes.
O ultra ligado, se levar o
mesmo baque ou similar, costuma dar a notícia em alto e bom som e
partir para outra, novidade é o que não falta, tudo é ágil e não
dá para parar. A fila voa. Um acontecimento engata no outro e quem
sabe, no fim do ano, ele elabore uma retrospectiva dos momentos mais
importantes. Ou não. Tem gente que passa por cima mesmo. Desencana
com facilidade. Devem sofrer menos. Quem dera.
Cada um, com suas
características, poderia, se não for possível apreciar, pelo menos
respeitar o formato alheio. Atazanar alguém apenas porque funciona
de forma distinta é um atraso de vida e, definitivamente, não dá
Ibope. Telespectador insatisfeito tem a opção de mudar de canal.
*
Jornalista, com
especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de
Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em
Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição.
Diretora de Jornalismo e redatora da Revista Mista, que é
distribuída em Governador Valadares, Ipatinga e Juiz de Fora, MG e
colunista do portal www.ubaweb.com/revista.
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