Retrato
do Arquiduque de Chorumelas
A
bem da verdade
* Por
Marcelo Sguassábia
Ninguém
há de negar que entre a história oficial e a real há sempre um
abismo enorme. Nos fatos a que me atenho, alguns historiadores
avaliam seu tamanho em 28 metros de altura por 12 de largura. Outros
estudiosos afirmam serem superestimadas as dimensões do referido
fosso, que não devem ultrapassar, segundo eles, 26,5 metros por
11,4.
Controvérsias métricas à parte, o que vem ao caso no momento são alguns episódios que urge serem publicamente reparados, especialmente aqueles relativos aos mais de 120 anos de desavenças bélicas entre o Reino de Patavina e o Condado de Lhufas.
Para
que não se perpetuem injustiças, seguem alguns pontos finalmente
elucidados, que desmistificam um sem número de embustes e falácias
perpetrados mundo afora, o mais das vezes por gente que não tem o
que fazer.
Está
definitivamente comprovado que Olavinho Vai-Não-Vai, assim chamado
por seu temperamento titubeante na função executiva de maneira
geral e no trato com os amotinados do Levante de Aragão de modo
particular, teve como conselheiro o Arquiduque de Chorumelas, e não
Zolostro, o Precipitado.
A
greve dos monges copistas pelo direito à meia passagem nas carroças
foi na verdade julgada abusiva pelo Tribunal da Inquisição, sob o
argumento de que eram desnecessários aos reivindicantes quaisquer
meios de locomoção, por viverem na clausura.
Tomaso
Vietri, o Flambado, recebeu essa alcunha por ter sido imolado na
fogueira entre outubro de 1502 e março de 1503 (não que o
supra-citado tivesse permanecido todo esse período ardendo em
chamas; o intervalo de tempo refere-se à imprecisão da data de
execução do mesmo).
Aqui
se faça também a necessária errata e o desagravo a Isabel, a
Dadivosa, durante a conhecidíssima porém nunca suficientemente
estudada Batalha dos Aleijões. Célebre por introduzir no cardápio
luso o mingau de seriguela, sabe-se agora que tinha por hábito
tocaiar ambidestros e alocá-los nos serviços da Corte, como
descascadores de beterraba, pajens dos infantes ou auxiliares dos
alquimistas na produção de cicuta. Os demais – destros ou
canhotos – eram mantidos nos calabouços de cabeça para baixo até
que viessem a óbito por congestão cerebral ou inanição – o que
ocorresse primeiro, conforme item 5, parágrafo 3 do regulamento
encontrado no sítio arqueológico de Quatá.
Não
obstante a veemente reprovação do Barão de Almofadinhas, coube ao
cônsul Onderóques instituir em Barbapácia a lei que regulamentou a
obrigatoriedade dos crachás nas armaduras, para que não se
dizimasse por engano os guerreiros aliados ao invés dos inimigos. O
expediente, prático e eficaz, poupou milhares de combatentes das
fileiras dos Habsburgos em terras catalãs.
Lulalah,
o Oneroso, cuja sangria imposta ao erário público em muito superou
o volume de sangue derramado em todas as cruzadas, foi o principal
responsável pela disseminação da peste marrom-clara, mais amena
que a negra, sua sucessora imediata.
A afirmação, tida como fidedigna pela comunidade acadêmica, consta no diário de Catarina, a Enxerida, amante do monarca.
*
Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Ufa! Barbaridade, tche!
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