Pobre cidade rica
* Por Pedro J. Bondaczuk
A
cada nova pesquisa sobre o atual quadro social brasileiro, fica mais
e mais nítido o retrato de um país que ainda não encontrou seu
verdadeiro caminho. Emergem, delas, ilhas de progresso e
prosperidade, cercadas de imensos continentes de carências e de
miséria. Campinas, que neste 14 de julho completa 243 anos de
fundação, é um exemplo característico desse profundo abismo que
separa ricos e pobres.
Esta
metrópole – tão progressista em vários aspectos e tão
problemática no que se refere ao quadro social – é uma obra
coletiva, que ainda está em andamento. O que tem de bom pode ser
melhorado e aproximado da perfeição. E as coisas ruins, terão que
ser mudadas. Aliás, nem se pode falar de uma única Campinas. Há
várias, plantadas na mesma área, que ora se chocam, ora se
entrelaçam, mas que se confundem e dão a impressão aos desavisados
de serem uma só. Mas não são.
Há
a cidade da cultura. A das universidades consideradas padrões de
excelência, com renome nacional e internacional. A das academias de
letras, de artes, de esportes. A das escolas técnicas e dos
institutos de pesquisa. A do polo de alta tecnologia, contribuindo
para o desenvolvimento e a modernização do País. A dos hospitais
com reputação em toda a América Latina. A da orquestra sinfônica.
A da Ponte Preta e do Guarani…
Há
a cidade da economia, "capital" de uma das regiões mais
ricas e desenvolvidas do Estado de São Paulo e do Brasil. A da
indústria de ponta, exportadora por excelência, geradora de divisas
para financiar o desenvolvimento nacional. Esta é a Campinas da qual
nos orgulhamos.
Mas
há outras “cidades” dentro da metrópole, que precisam ser
mudadas, e que não podem ser ignoradas. Como a dos meninos de rua,
cheirando cola nas praças e avenidas em plena luz do dia,
assaltando, esmolando e roubando, sem perspectivas de futuro,
trilhando os caminhos (muitas vezes sem volta) da marginalidade. Como
a dos mendigos, desassistidos, doentes, frágeis, na dependência da
boa vontade alheia para sobreviver. Como a da criminalidade, do
tráfico de drogas, da exploração da prostituição, do alcoolismo
e da violência cega e assustadora. Como a dos desempregados que
sobrevivem de "bicos". Como a dos sem-teto ou a dos
favelados. Há a Campinas com falta de vagas nos hospitais e nas
escolas. A das invasões que se multiplicam. A do inchaço de sua
periferia, que se expande, de forma assustadora, nos seus quatro
quadrantes.
Os
habitantes destes "guetos" também integram esta sociedade
da qual, aliás, são maioria. Seus problemas são os de todos nós.
O que se fez, até aqui, no campo social, convenhamos, é muito pouco
diante das dimensões da miséria. Nesta tarefa gigantesca e modelar,
de busca de justiça social, as autoridades não devem, e nem podem,
lutar sozinhas. É um esforço que tem que envolver todos nós, numa
corrente de solidariedade e de civismo, para que, quando a cidade
completar o 300º aniversário, em 14 de julho de 2074, os
campineiros possam olhar para trás e sentir o mesmo orgulho que
sentimos hoje da nossa cidade. Diante do quadro atual, porém, não
há como não exclamar, com pasmo e decepção: “pobre cidade
rica!”. É por isso que Campinas não pode parar!!!
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de
Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do
Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções,
foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no
Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios
políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas),
“Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da
Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º
aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53,
página 54. Blog “O Escrevinhador” –
http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Em Montes Claros estamos décadas atrás de Campinas.
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