Equação
* Por
Flora Figueiredo
Vamos
dividir essa lágrima:
dou-lhe a metade
mas você a fez maior do que devia.
A outra parte me pertence
pois que é lágrima de minha própria autoria.
Vamos repartir esse sorriso
pois é preciso ser equilibrado:
um pedaço é seu
mas, se formos apurar os fatos,
fui eu sozinha quem o cometeu.
Vamos fracionar a melodia:
pra você ficam os tons do diapasão,
eu fico com os dissonantes.
Feita assim a justa divisão,
volta tudo a ser como era antes.
Só fico lhe devendo o irreversível:
não sei bem como é que foi possível,
nem qual a técnica que nós usamos
mas, engoli sua alma com um beijo
na última vez em que nos amamos.
dou-lhe a metade
mas você a fez maior do que devia.
A outra parte me pertence
pois que é lágrima de minha própria autoria.
Vamos repartir esse sorriso
pois é preciso ser equilibrado:
um pedaço é seu
mas, se formos apurar os fatos,
fui eu sozinha quem o cometeu.
Vamos fracionar a melodia:
pra você ficam os tons do diapasão,
eu fico com os dissonantes.
Feita assim a justa divisão,
volta tudo a ser como era antes.
Só fico lhe devendo o irreversível:
não sei bem como é que foi possível,
nem qual a técnica que nós usamos
mas, engoli sua alma com um beijo
na última vez em que nos amamos.
In
Florescência, 1987
*
Poetisa,
cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a
noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão
Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo
e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua
intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça
- às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre
dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal,
seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário