O
descobrimento
* Por
Bernardo Élis
Um
tropel maluco
de
mil patas
no
seio das matas.
Um
tiro de trabuco
deu
um bruto soco
na
quieteza virgem da paisagem.
E
homens da cor-de-areia,
vindos
da banda do mar,
chegaram
à beira do Rio Vermelho,
resolveram-lhe
os poços azuis
em
que dormiam palhetas cor-de-brasa
e
deitaram-lhe fogo às águas claras.
E
o velho pajé muito velho,
cabeça
branca das cinzas de muitas eras,
num
esgar medonho de fera,
gritou:
Anhanguera, Anhanguera!
Os
homens da cor-de-areia
bateram
e venceram a nação dos Goiás.
Mas
na noite viúva,
quando
o fogo sagrado lambeu a lua,
-
rascar de maracás,
-
zás-trás, zás-trás,
-
tutucar de tantãs,
-
grito de agouro: acauã-acauã,
abriu-se
na mata a flor do sumaré.
E
o velho pajé muito velho,
num
gesto hierático de bárbaro,
erguendo
as mãos para o céu,
clamou:
tupã, tupã!
O
verde novo da floresta
tinha
um ar alegre de festa,
E
os homens da cor-de-areia,
vindos
da banda do mar,
foram
tombando à beira
da
fogueira que tingia a noite,
suando
de frio, tremendo de calor.
E
o verde alegre da floresta
tinha
um ar novinho de festa.
(Primeira
chuva,
1955)
*
Advogado,
professor, poeta, contista e romancista, membro da Academia
Brasileira de Letras.
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