Carta de outono
* Por Barros Pinho
escrevo
para ti que não conheço
no
segredo que fere o úmido do orvalho
na
linha azul onde o tempo escreve a avidez
no
papel de nuvem a nuvem mais branca do céu
o
céu de ninguém na existência profética dos rios
a
descer sobre õ vale na terra morena de teu corpo nu
na
semântica do vento na palavra de augúrio da cigana
envolta
no feitiço na sedução do fruto maduro
em
tua boca a flor salgada a saltar do mar
no
relâmpago uma pupila de seda de teus olhos grandes
se
espreita a sombra no último gosto da espera
uma
lembrança de sol arde no perfume de tua pele
e
pássaros tocam flauta de palha no teu ventre de fogo
a
aurora acorda na reticência de rosas no púbis das estrelas
o
teu olhar abre a tarde para o anúncio próximo da noite
a
colina ofegante de teu corpo afaga a chuva fina em teus cabelos
enquanto
a vida planta eternidade no luar de tua vagina
viajor
de sonho contemplo teus pés pisando pedras no riacho raso
onde
borboletas se extinguem enterneci das na volúpia
das
abelhas postas em teus seios entumecidos de distância
na
homilia das águas celebrando desejos o desejo
interminável
das insônias onde as madrugadas se extraviam
* Político, poeta e contista, autor dos
livros “Natal de barro lunar”, “Quatro figuras no céu”, “Planisfério” e “Circo
encantado”, entre outros.
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