Zoraide Propaganda
* Por
Marcelo Sguassábia
Tudo começou quando
fui servir suco para o Dr. Célido e o Diretor Comercial na sala de reunião. Vi
os dois falando sobre o anúncio que vocês criaram e dizendo que carecia
aumentar o elefante no layout e enfiar uma tarja alaranjada perto da tromba
dele, dizendo “últimos dias, aproveite” ou algo parecido. Não entendi patavina
dessa história de retrato de elefante no reclame, já que até onde eu sei a
empresa trabalha com fibra ótica e eu acho que tem que mostrar as coisas que a
fábrica faz, quanto é que custa e colocar depois o endereço, que é pra pessoa
se orientar e saber onde é que tem que ir pra comprar os negócios que a
propaganda fala.
Vocês inventam umas
doideiras, se sai uma propaganda dessa vão achar que é anúncio de circo. Só sei
que eles continuaram até tarde trancados lá na sala, às vezes dando berros e
rabiscando inteirinho o layout que a moça que trabalha aí com vocês trouxe
anteontem. Depois vi que cada um ficou fazendo uma lista de frases, também pra
colocar no anúncio, e ficavam falando sobre trocar de agência, que qualquer
coisa era melhor que essa porcaria que vocês fazem. Desculpe a dureza das
palavras, mas era desse jeito que eles falavam, e acho bom vocês ficarem
sabendo logo da verdade verdadeira pra tomarem cuidado e já irem esperando pelo
pior.
Mas, continuando,
depois chegou a dona Izildinha do RH com sua meia preta desfiada e começou a
dar um pitaco atrás do outro, com aquela vozinha esganiçada, falando que por
ela tirava o elefante e punha no lugar uma porta de carro amassada com uns dizeres
sobre tráfego seguro de dados, que era legal uma amalogia (é assim que fala?)
de trafegar em alta velocidade e trânsito, e aí então falar da fibra ótica, etc
etc. O Diretor Comercial disse pra ela fechar o comedor de lavagem e que ela só
entendia de recrutamento e seleção e coisa e tal. Aí ela começou a tremer o
lábio de nervoso e jogou o copo de suco na cara dele. Depois pegou a bombinha
de ar dentro da bolsa e começou a se borrifar pra acalmar a asma, enquanto eu
fui buscar um pouco de água com açúcar.
Veja bem minha
situação, eu não quero de jeito nenhum meter minha colher nessa cumbuca, mas é
que a minha irmã, que me arranjou emprego aqui, é faxineira de vocês, e acho
que falando essas coisas eu estou ajudando ela também, pois com certeza a Crô
vai pra rua se vocês se ferrarem de verde e amarelo. E a chance de vocês se
darem muito mal é grande demais, a não ser que apareçam logo por aqui com
anúncios bem chamativos, como por exemplo “A sua melhor opção de compra”, “O
gerente ficou louco”, “A gente faz aniversário e quem ganha o presente é você”
e outras frases de efeito que façam o sujeito se convencer que os nossos
produtos são realmente ótimos. E deixaria o emblema da firma altamente enorme,
com os produtos da fábrica em volta dele, parecendo o sol com os planeta
girando em torno, sabe, acho que desse jeito funciona pois a pessoa enxerga de
cara o que interessa. Mas agora chega de palpite que eu já estou parecendo a
dona Izildinha.
Voltando ao Dr.
Célido, ontem mesmo ele comentava pelos corredor que todos vocês aí na agência
são uns malas sem alça, e que armaria uma embroscada gastromônica, uma
intoxicação coletiva com queijo roquefort estragado. Aí o Diretor Comercial
teve a ideia de sabotar o jatinho que vai levar o pessoal da agência até a próxima
convenção de gerentes da firma, em Monte Mor. Segundo ele, seria uma boa forma
de ver vocês todos mortinhos da silva de uma tacada só.
Lá pelas tantas, e na
terceira rodada de Tang de uva na sala de reunião, começaram a falar da
proposta que a firma recebeu de uma tal de “Tiro Certo Propaganda e
Marqueting”. É bom vocês saberem que os caras já mandaram portfólio, meia dúzia
de broche em formato de espingarda com o slogan “A gente acerta na mosca” e
mais um ramalhete de flor pra recepcionista, a Dorinha.
Pouco tempo depois,
pude ver pelo vão da porta o Dr. Célido sapateando em cima do reclame com seu
Vulcabrás modelo Antônio Ermírio, juro que o homem parecia um pai de santo no
auge da incorporação. É engraçado, quando ouvi pela primeira vez o nome Vulcabrás
pensei que fosse uma estatal que cuidasse dos vulcão, mas aí lembrei que no
Brasil não tem vulcão, pelo menos ativo. Só aposentado. E vulcão de estatal
deve aposentar com salário integral, não é? Mas deixa pra lá, é só um
comentário bobo de uma copeira sem estudo nem noção, e nem sei porque estou
falando isso agora. O importante mesmo é que vocês precisa tomar cuidado. Quem
avisa amiga é.
* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Risadas nessa boa volta no tempo, fazendo-me lembrar das propagandas do rádio. Todos os ingredientes do passado estão aí.
ResponderExcluir