Nem
queira saber o que acontece lá dentro
* Por
Marcelo Sguassábia
A nossa sociedade
secreta pode ser tudo, menos secreta. Paradoxalmente, só nos popularizamos a
partir do momento em que alguém começou a inventar e a espalhar que tínhamos um
rol infinito de segredos guardados a sete chaves. Ou seja, aquilo que presumivelmente
calávamos é que fez com que caíssemos na boca do povo.
A especulação sobre
quem somos e o que fazemos não cessa. Falam de fantasiosos símbolos, adereços,
elementos com significados ocultos. Dizem que o que se faz em nossa sede, dos
rituais de iniciação (nem sabemos o que é isso) ao conselho magno sacerdotal
(heim???), inclui derramamento de sangue e lágrimas, sacrifícios de animais em
altares de marfim e até uma misteriosa escrita em código, da qual se tenta
inutilmente desvendar a sintaxe.
Com toda a
sinceridade, é desconcertante e vexatório ter que revelar a esses
bisbilhoteiros - gente que chega aqui em nossa sede arfando por revelações
bombásticas e decifrações de enigmas - que não existe segredo algum naquilo que
fazemos. E quanto mais afirmamos essa simples e cristalina verdade, mais esse
povo pensa que estamos despistando e guardando insondáveis mistérios somente
para nós.
Queremos apenas ajudar
ao próximo, e essa missão de servir é vista pelos maledicentes como uma espécie
de "falso propósito", de conversa pra boi dormir. Se não cobramos
nada de quem quer que seja, inventam que é porque somos tão ricos e não temos
mais onde enfiar dinheiro. Se nos reunimos às quartas-feiras, às 7 da noite,
começam a elucubrar significados cabalísticos e numerológicos, relacionando
aritmeticamente o dia da semana ao horário: o 4 da quarta mais o 7 da noite é
igual a 11, assim como 11 é a numeração da sede, da mesma forma que 11 lembra
as duas palmeiras plantadas simetricamente em frente ao templo, de onde se deduz
que o 11 do Palmeiras entrou no time por influência de alguém graúdo do templo,
eleito por 11 encapuzados para cumprir um mandato de 11 anos, renováveis por
mais 11.
Enfim, chegamos à
conclusão de que é inútil qualquer tentativa nossa de rebater tantas
imbecilidades e calar a boca dos desocupados que as formulam. Até mesmo este
texto será motivo para que criem uma maluca teoria da conspiração, na qual
algumas palavras contidas nele formam uma mensagem ultrassigilosa, que só uns
poucos eleitos saberão decifrar. Algo ligado ao fim do mundo ou coisa parecida.
Tsc, tsc. Melhor parar por aqui.
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
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