A doença que atrapalhou e abreviou a
vida de Humberto de Campos
A vida de Humberto de Campos teve tantas circunstâncias que,
claro, influenciaram decisivamente em sua vasta obra, que para relatá-las todas,
seria preciso redigir um livro inteiro, e dos mais volumosos, e ainda assim
muita coisa acabaria omitida. Um dia, quem sabe, eu encare esse desafio e tente
trazer o máximo delas à baila. A mais dramática, sem dúvida, foi a doença que o
acometeu. Foi a acromegalia, que tornou seus derradeiros seis anos de vida um
inferno. Imagine, o leitor, o que significa, por exemplo, para um escritor (e
ademais para qualquer pessoa, sem dúvida), a perda progressiva da visão! O
efeito disso sobre o ânimo de quem passa por essa provação é bombástico. Mas
não foi só isso – que mesmo que fosse, já seria terribilíssimo – mas a doença progressivamente
o inutilizou. Pior: deformou-o, tornando seu aspecto físico “monstruoso”.
Levou-o a retrair-se, a evitar o contato com as pessoas, a privar-se por
completo da vida social e a afastar-se, até, da família.
Recorro, para a descrição da doença que acometeu Humberto de
Campos, aos sempre bem vindos préstimos da Wikipédia. Essa enfermidade, que nem
mesmo é assim tão rara e que, a despeito dos recursos médicos atuais, tende a
ser incurável, era pouco conhecida na primeira metade do século XX. Ainda hoje,
é possível que um ou outro “sortudo” seja curado. Mas caso a cura ocorra, ela é
raríssima. Imaginem em 1928, quando a Medicina era bastante atrasada, se
comparada aos dias atuais! Para o leitor ter uma idéia, sequer a penicilina
havia, ainda, sido descoberta por Alexander Fleming, o que viria a ocorrer
somente em 1937. Os diagnósticos eram quase que na base do “palpitômetro”.
Tanto que os sintomas (hoje claríssimos e rapidamente identificáveis), foram diagnosticados
por um dos médicos a que o escritor recorreu, como “reumatismo articular”.
Claro que não era isso. Será que se fosse feito um diagnóstico correto o
paciente teria chance de cura? Talvez! Todavia, não creio. É possível, contudo,
que os sintomas mais desagradáveis pudessem, pelo menos, ser minorados.
Wikipédia caracteriza assim a acromegalia: “síndrome causada
pelo aumento da secreção do hormônio de crescimento (GH e IGF-I) em adultos”.
Ocorre que a doença é mais comum na infância e na adolescência, quando recebe o
nome genérico de “gigantismo”. E o que acontece quando a acromegalia atinge
adultos? A enciclopédia eletrônica responde: “Por ocorrer na fase adulta, em
que as epífises já encerraram, o crescimento se dá nas partes moles e nos ossos
(não no crescimento longitudinal – ficando mais alto como no gigantismo – mas
em largura. Geralmente o intervalo entre o início da doença e o seu diagnóstico
é de 12 anos, pois o crescimento anormal demora para ficar claramente distinto
do normal”. Esse aspecto leva à conclusão que a acromegalia já estava presente
no organismo de Humberto de Campos pelo menos seis anos antes de serem
detectados seus primeiros sintomas, ou seja, possivelmente em 1922.
E como é essa doença neste nosso avançado século XXI? A
Wikipédia responde: “A incidência é de 5 a 6 casos novos por milhão por ano. Já
a prevalência é de 40 a 50 casos por milhão. A idade de início geralmente é
entre a terceira e a quarta década de vida, sendo mais comum em mulheres. Tem
um índice de mortalidade 2 a 3 vezes maior que a população normal, e as causas
de morte são, na sequência, cardiovascular, respiratória e neoplasias”. Como se
nota, a despeito dos progressos da Medicina, a acromegalia segue matando, e com
relativa rapidez, as pessoas a que afeta.
E o que a pessoa, o adulto no caso, como ocorreu com
Humberto de Campos, sente quando acometida pela acromegalia? Wikipédia lista
alguns dos sintomas, cujos principais são: “cefaléia (dor de cabeça),
distúrbios visuais, perda de campo visual, paralisia de pares cranianos, letargia,
fraqueza, perda da libido, infertilidade, desfiguração facial (a arcada do
maxilar inferior excede a do maxilar superior, havendo, portanto, prognatismo),
aumento de mãos e pés (as mãos crescem em largura e espessura. O seu volume
contrasta particularmente com o do braço, que se conserva normal), crescimento
exagerado do volume do tórax, do nariz e dos genitais, fraqueza muscular, aumento
da área do coração com insuficiência cardíaca e hipertensão arterial sistêmica,
apneia do sono, por aumento de partes moles e aumento da língua”. Imaginem o
sofrimento de Humberto de Campos. Mas o notável que, mesmo quase cego, ele não
parou de escrever, até pelo menos seis dias antes de sua morte. Isso é que era
força de vontade!
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
A acromegalia está na minha área de atuação, a Endocrinologia e os hormônios. O diagnóstico pode ser relativamente precoce e o tratamento é com cirurgia da hipófise, medicamentos e radiação. Vejo casos mais leves, pois alterações menos graves como diabetes e mudanças na fisionomia(comparação de fotos) podem levar ao diagnóstico e tratamento, nem sempre curativo, mas que estanca a evolução. O que está alterado não regride.
ResponderExcluir