Duelo
à frente de um prato de coxinhas
* Por
Marcelo Sguassábia
- Tim-tim!
- Saúde!
- Bom, onde é que a
gente tinha parado mesmo?
- Sócrates e seus
seguidores.
- Ah sim, claro. Numa
perspectiva hedonista, é evidente a influência do iluminismo como mola
propulsora da morfologia intramolecular...
- Ok, da qual derivou,
décadas mais tarde, a hermenêutica mineira contemporânea. Tudo bem, isso é
óbvio e incontestável para qualquer guri de 5 anos. Mas daí você generalizar,
atribuindo a Cervantes a fundamentação da hidrofobia, vai uma enorme
distância...
- Permita-me
discordar. Veja por exemplo a exegese adstringente dos sonetos de Petrarca. No
estrito sentido do léxico, conjectura-se ser pura fenomenologia endógena, pelo
menos numa primeira análise.
- Em termos, em
termos. Afinal, Donaldson é quem efetivamente fez a ponte entre o parnasianismo
tardio e Paulo Coelho. Isso dentro da retórica fonética do ser, enunciada por Kant
com muita propriedade.
- Contanto que fosse
uma suposição empírica, comumente compreendida na estética gamaglobulínica.
- Mas as mutações no
tecido social sempre prevalecem sobre a silepse antropológica. Silepse que,
aliás, tem em Nietzsche seu mais ferrenho defensor. Te peguei, hein. Sai dessa
agora!
- Por mais que a
ciência lance luz a essas indagações, a ablação cinética do conservadorismo
sempre será objeto, na acepção anímica, de um redesenho neo-positivista que age
antagonicamente aos receptores de protease. Ficou clara a diferenciação?
- Na realidade, Pound,
em toda sua obra, contextualiza a intersecção geomórfica, ainda que de forma
veladamente dúbia, se tomarmos como parâmetro o determinismo puramente
iconoclasta.
- Veja bem, o que eu
defendo, do ponto de vista enunciado por Homero na Ilíada, é que a bissetriz
não tangencia a prosódia de Lacan, qualquer que seja a natureza do objeto em
questão.
- Alto lá, meu amigo.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Se Hahnemann, ao lançar as bases da
homeopatia, não tivesse uma mãozinha do Padre Vieira, como explicar a queda da
Bastilha enquanto divisor de águas no estudo das pororocas? E digo mais: se
fôssemos levar essa sua premissa como verdadeira, estaríamos admitindo o
Molibdênio e seu número atômico como desencadeadores do efeito estufa. O que,
convenhamos, é uma sandice.
- Discordo
redondamente.
- É desanimador sentir
o colega tão refratário à lógica quântica.
- Não tenho culpa se
você é retrógrado e insiste em defender a representação metafórica, que extrai
da identidade do objeto racional sua própria subjetividade transcendente. Ou
você vai continuar negando que o Recôncavo Baiano na verdade é Reconvexo?
- Sim como aforismo.
Jamais como axioma.
- Não, não. Você não
entendeu aonde eu quero chegar. Tome, por exemplo, essa coxinha que repousa
gordurosa à nossa frente. É uma reles coxinha, que não se sabe coxinha. Não tem
a consciência de sua “coxinhicidade”, ou sua essência salgadística, entende? É
o eterno conflito entre Eros e Tanatos, Sísifo e Prometeu.
- Deixe de ser
simplista. A dicotomia aristotélica não se abstrai assim, num maneirismo
niilista de contornos platônicos.
- Então, mas...
- Espera aí, deixa eu
só concluir o raciocínio. A ambivalência, no contexto glauberiano, pode e tende
a ser congruente. Caso contrário, a catarse sinóptica de Eleonora Duse lançaria
por terra essa sua teoria. Ou melhor, sua falácia.
- Sei. De onde se
supõe uma retomada da síntese diastólica.
- Então, é justamente
esse o ponto. Taí a signagem termo-acústica que não me deixa mentir.
- E que não te deixa
raciocinar, pelo jeito.
- Está partindo pra
ignorância?
- É. Quem sabe assim
você me compreende...
- Olha a baixaria!
- Ora, defenda-se com
argumentos. Válidos, racionais, insofismáveis. Ou então, renda-se. Tenha a
humildade de abandonar a partida ao antever o cheque-mate.
- Seguirei seu
conselho. Tô indo embora.
- Ei, espera aí. A
gente combinou de rachar a conta.
- Parafraseando
Schopenhauer, te vira Mané. Tchau mesmo.
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
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