Inigualável campeão olímpico de há 2
milênios e meio
Pense, caríssimo leitor, em um sujeito forte. Contudo,
exagere. Não pense em alguém com uma força, digamos, “normal”. Ouse. Utilize
todos os superlativos que lhe vierem à cabeça: fortíssimo, fortão,
super-hiper-mega-giga fortão e vai por aí afora. Pensaram? Provavelmente vocês mentalizaram
o personagem bíblico Sansão. Ou, quem sabe, viajaram na fantasia e lhes veio à
mente a mitológica figura de Hércules, aquele dos doze trabalhos e que
sustentaria a própria Terra sobre os ombros. Quem pensou nele, foi longe
demais. O fortíssimo ao qual pretendo me referir existiu. Pelo menos a julgar
pelo testemunho de historiadores. E sua força não estava em seus cabelos, como
era o caso de Sansão, mas exclusivamente em seus músculos bem trabalhados. Não
só existiu como foi campeão olímpico, e não apenas uma vez, mas em seis
oportunidades! E não só em uma modalidade, porém nas três que existiam nos
Jogos da remota antiguidade, nos da Grécia Antiga. Seu nome? Milon de Croton.
Qual a façanha desse super atleta, além de vencer todas as
provas de lutas, nas três categorias então existentes – luta livre, pugilato e
pancrácio, que era uma versão remotíssima do vale tudo, do atual MMA – o que,
convenhamos, não é pouco? A se acreditar nos historiadores das Olimpíadas da
Antiguidade, cujos nomes não citarei, pois recorri a vários deles e nenhum
deles “testemunhou” os feitos de Milon, mas recorreu, igualmente, a outros
cronistas, cujos nomes também não citaram, esse gigante musculoso, essa
montanha de músculos, que além de tudo era ágil e astuto, ganhou também outras
competições de seu tempo, como os Jogos Píticos. Neste torneio, aliás, derrotou
todos os competidores quando tinha, apenas, doze anos de idade, ou seja, quando
criança.
Não é á toa, pois, que seja tido e havido como recordista de
sua modalidade em todos os tempos, recorde até hoje, cerca de 2400 anos após se
tornar campeoníssimo, jamais igualado. Só o fato de haver participado de sete
Olimpíadas consecutivas, mesmo que não houvesse vencido nenhuma em sua modalidade,
já seria o suficiente para tornar-se “imortal”. Mas venceu! E seis delas: de
528 a.C. a 552 a.C. Perdeu, apenas, a última, a de 556 a.C, quando já estava
com 46 anos de idade, ou em torno disso. E foi derrotado, apenas, na modalidade
de luta livre. Ainda assim, venceu no pugilato e no pancrácio. E quem conseguiu
derrotar esse gigante fenomenal? Foi um adolescente, de sua cidade natal,
Thimaseteus de Croton, que tinha metade do tamanho de Milon. Foi declarado
vencedor, no entanto, sem aplicar um único golpe no campeão. Passou a luta toda
se esquivando, fugindo do abraço de urso do até então invicto lutador. E, por
não haver sido “dobrado”, foi declarado vencedor. Eu, se estivesse na arquibancada,
assistindo a esse combate, não teria dúvidas em vaiar os juízes e gritar-lhes
um sonoro “ladrões”.
De acordo com os historiadores, que imortalizaram Milon, ele
não contava, apenas, com a força bruta. Reunia, a um físico para lá de
privilegiado, um cérebro ativo e agudo. Tanto que era discípulo de ninguém menos
do que o mítico filósofo e matemático Pitágoras, aquele do famoso teorema, que
foi mestre do não menos mítico Sócrates. O cara era, mesmo, uma fortaleza
física e intelectual. Claro que deve haver exagero no relato dos historiadores,
mas só o fato de sua simples existência haver sobrevivido na memória dos povos
por cerca de dois milênios e meio, já é uma façanha. Ninguém resiste dessa
forma à ação do tempo sendo pessoa comum.
Como testemunho de sua enorme força muscular cita-se o caso
de que, assistindo a uma lição de Pitágoras, com vários discípulos do filósofo,
o teto do recinto começou a desabar. Estava prestes a acontecer, como se vê,
uma catástrofe que poderia até mudar os rumos da própria Filosofia e da
Matemática, com a morte de gênios do pensamento. Milon, todavia, estava ali. E
o que fez? Correu? Não!!! Sustentou, e apenas com uma das mãos, a estrutura que
estava desabando, até que todos tivessem saído do recinto. Dizem que sua força
era tamanha, que conseguia carregar, sem muito esforço, sua pesadíssima estátua
de mármore. E que um dia, chegou a carregar nas costas, apenas para se exibir,
um touro de quatro anos, por 120 passos, matando, a seguir, o animal com um
soco.
Pausânias (que lhes apresentei em texto anterior) tratou,
com detalhes, de Milon. A estátua desse herói olímpico, na própria Olímpia,
feita por Dameas de Croton, ainda existia na época do notável geógrafo. O
gigante foi tema, ainda, de diversas representações na pintura e na escultura,
Na Literatura, Milon foi citado por François Rabelais, que fez comparações da
força de seu personagem Gargântua com a do campeão olímpico. William
Shakespeare referiu-se a ele no 2° ato de Tróilo e Créssida. Nem me lembro de
nenhum atleta, dos Jogos atuais, que tenham participado de sete Olimpíadas
consecutivas. Aliás, lembro sim. A jogadora da Seleção Brasileira de futebol
feminino Formiga está igualando, agora, na Rio 2016, o recorde de participação
de Milon. Duvido que existam outros.
Boa leitura!
O Editor.
Avompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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