Luz interior
A comunicação – quando exercitada com
amor, e com o genuíno desejo de, não apenas penetrar na mente das pessoas e
sondar seus desejos, angústias e necessidades, mas, principalmente, lhes
apontar caminhos para a solução dos seus problemas – é, mais do que um dom: é
uma arte. Trata-se, porém, de imensa responsabilidade, principalmente quando o
veículo utilizado é o texto e quando seu alvo é o público em geral, e não
alguém específico.
Nunca se sabe em quais mãos a crônica, o
artigo, o ensaio (ou seja lá que tipo de escrita que for) vão cair.
Desconhece-se, por exemplo, o estado de espírito desse leitor no momento da
leitura, sua condição de saúde (física, mental e/ou psicológica), se está
feliz; se, ao contrário, sofre por alguma razão qualquer (perda de um ente
querido, demissão no emprego, doença própria ou de alguém da família
etc.etc.etc.); se é ou não influenciável pelo que ouve ou que lê e assim por
diante. Mesmo assim, apesar de todos esses cuidados, às vezes, por imperícia (e
juro que não por má-fé), acabo por ser causador de ainda mais sofrimento a
alguém que já esteja sofrendo. Imaginem se não me cercasse de tanta cautela!
Podemos, com o nosso texto, tanto
consolar, animar e incutir otimismo e vontade de vencer em quem nos lê, quanto
levá-lo ao desânimo, à depressão, ao desespero e, em casos extremos, até ao
suicídio. E raramente temos ciência dos efeitos e do resultado do que
escrevemos.
Por isso, sempre que me preparo para
este ato de comunicação, penso, em primeiro lugar, nessa possibilidade. Analiso
se o tema é construtivo, se a colocação é adequada e se a exposição das idéias
está clara, sem qualquer ambigüidade. Caso não sejam, apago o que eventualmente
já esteja escrito e parto para outro tema, cercado das mesmíssimas cautelas.
Se, pelo contrário, sentir que satisfiz todas as condições auto-impostas, dou a
crônica (que é o gênero de que mais me utilizo para comunicação com o público)
por concluída.
Não raro, mesmo com todos esses
cuidados, não me sinto seguro do que escrevi. Procuro em minha biblioteca algum
livro sobre o assunto para me esclarecer melhor. E refaço o texto, mesmo que já
esteja atrasado na sua entrega ao editor. Quando o concluo de novo, peço a
alguém da minha plena confiança que o leia, com o olhar mais crítico possível,
e que me aponte todos os defeitos que encontrou. Se o assunto, ou a sua
abordagem, forem por demais polêmicos, busco mais de uma opinião (já houve
casos de pedi-la a até dez pessoas), antes de me dar por satisfeito e
encaminhar o texto em questão para divulgação em sites e jornais, ou de expô-lo
em meus blogs.
O que procuro, ao escrever, é uma certa
luz interior, que me desperte empatia com os semelhantes. É colocar no texto
todos os princípios que me foram incutidos por meus pais, por meus mestres e
pelos milhares de escritores que li e que me tornaram no que sou. Na maioria
das vezes, tenho conseguido isso, a julgar pelos comentários sobre minhas
crônicas, feitos na internet ou nas cartas e nos e-mails que recebo. Às vezes,
porém...Dou magníficos escorregões e recebo ásperas reprimendas públicas, por
esses mesmos meios.
Essas críticas, apesar de machucarem o
ego, são preciosíssimas, até aquelas mal-educadas e com palavras chulas, feitas
com o objetivo deliberado de me ridicularizar. Procuro aceitá-las com humildade
e evito polemizar. É verdade que às vezes a vaidade fala mais alto e dou
respostas um tanto quanto atravessadas para os mais atrevidos. Tolice minha,
claro!
Na minha atividade de comunicador,
busco pautar minhas ações por estas palavras, ditas por um dos seres humanos
mais preciosos e altruístas que já existiram, o Dr. Albert Schweitzer – que
dedicou mais de 60 anos de sua longa e produtiva vida (morreu com 92 anos de
idade) a curar leprosos em um tosco hospital em plena selva africana –: “Quando
existe dentro de alguém a luz interior, ela transparece e se irradia. Então nos
reconhecemos mutuamente, mesmo na escuridão, enquanto caminhamos lado a lado”.
Li essa citação há muito tempo, há 51
anos, na edição de 2 de outubro de 1965 da revista “O Cruzeiro”, que há muito
já não existe. O Prêmio Nobel da Paz de 1952 disse essas palavras a respeito da
esposa, Helena Breslau, que o acompanhou até o último momento nesse seu sublime
sacerdócio. E elas foram citadas pela repórter Leda Barreto, na matéria
“Schweitzer, morre um feiticeiro branco”, publicada pela referida revista.
É essa luz interior que busco todos os
dias, quando me preparo para escrever, o que faço, pontualmente, há mais de
quatro décadas, profissionalmente ou não. Não sei se já consegui estabelecer,
em alguma ocasião, essa empatia com o leitor, mas continuo tentando. Para isso,
cultivo o mais que posso o otimismo e valores positivos, mesmo quando as
circunstâncias me aprontam das suas.
Não tenho o direito de ser pessimista,
amargo ou desanimado e muito menos de difundir esses sentimentos através dos
meus textos! E isto até por um motivo egoísta, para a preservação da minha
saúde, pois como constatou o filósofo norte-americano Will Durant, em seu
clássico “Filosofia da Vida”: “A fé, a esperança e o amor parecem expandir-se
em cada célula do nosso corpo; a dúvida, o medo e o ódio contraem-nos os
tecidos, como se fossem venenos – e fisicamente são venenos”. Como não quero me
envenenar e muito menos envenenar meus leitores... procuro seguir a trilha do
bom-senso.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Ler escritos de outras pessoas nunca me causaram dor, já comentários sobre meus textos, sim. Para não criar inimigos, tenho o bom-senso de não retrucar, mas quando a intimidade permite, posso ter essa ousadia. Quem lê um comentário oposto ao que se acabou de dizer, pensa que o outro não entendeu, mas o mais provável é que discorde. Tão normal a discordância. A carapuça me assentou, ainda que diga a verdade sem asperezas.
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