Tarefa facilitada
Ser escritor, hoje em dia, é muitíssimo
mais fácil do que, digamos, há apenas trinta anos. Se recuarmos mais ainda no
tempo, teremos que valorizar ainda mais quem se dedicava, então, a esta
fascinante atividade de produzir livros. O advento do computador pessoal trouxe
facilidades a quem vive de escrever que Honoré de Balzac, ou Leon Tolstoi, ou
Victor Hugo não acreditariam que se tornassem possíveis, se algum “profeta” de
sua época lhes dissesse que um dia estariam ao dispor dos seus sucessores.
Até praticamente fins do século XIX,
por exemplo, não havia, ainda, sequer, máquina de escrever. Não tinha sido
inventada. Os textos eram redigidos de forma manuscrita, arrancados na unha. Os
redatores, não raro, até, tinham, por canetas, meras penas de aves (a
preferida, parece, era a de ganso).
Para que a tinta não borrasse o papel,
e não comprometesse o trabalho às vezes de um dia todo, os esforçados
escritores de então recorriam a um pó secador especial. Isso, quem conhecesse o
produto e pudesse comprá-lo. O advento da caneta-tinteiro foi considerado um
avanço espetacular, quase que um “milagre”. Esferográfica? Nem pensar! Não
havia, igualmente, sido inventada ainda.
As revisões dos textos, produzidos de
forma tão rústica e artesanal, eram uma loucura! O redator rasurava todo o
papel e, após cada correção, acréscimo e/ou supressão que fazia, tinha que copiar
tudo de novo, agora com as devidas retificações. E fazia isso duas, três,
cinco, dez vezes ou mais. Haja paciência! Os grandes clássicos da literatura
mundial nasceram dessa forma. Qual o escritor da atualidade teria tanta
paciência, e produziria obras tão marcantes, com as condições do seu colega do
passado? Será que haveria algum capaz disso? Duvido!
E não era só a produção de textos que
se tornava façanha digna dos “doze trabalhos de Hércules”. O escritor de
antigamente não tinha (óbvio) a internet para divulgar o que havia escrito. Não
contava, portanto, com o recurso do e-mail, por exemplo. Hoje, se eu quiser a
opinião de alguém, sobre o que acabei de escrever, antes de sequer pensar em
publicar em qualquer veículo ao meu dispor, é fácil e rápido. Basta encaminhar,
pelo correio eletrônico, o texto a algum amigo (que entenda do riscado, claro)
e rapidamente obterei a resposta. Os escritores de antigamente não tinham essa
moleza (e nenhuma outra).
Ademais, tenho condições de divulgar
fartamente o que escrevo, antes mesmo de ao menos cogitar e reunir tudo em livro. Conto com
milhões de sites e blogs da internet (meu próprio ou dos outros) ao meu dispor.
Só nesse aspecto, já levo uma vantagem monumental sobre os meus colegas de
profissão do passado.
Quando a máquina de escrever foi
inventada, e começou a se popularizar, foi comemorada como imenso “feito da
tecnologia”. Os escritores celebraram o ingresso, finalmente, no que entendiam
ser então a “modernidade”. Hoje... Convenhamos, esse instrumento, que nos foi
tão útil há apenas duas décadas ou menos (alguns, que resistem à informática,
ainda o utilizam) não passa, a rigor, de peça de museu. Torna-se a cada dia
mais raro e logo, logo tende a desaparecer de vez.
Claro que, tanto em passado remoto,
quanto na atualidade, o escritor, para se dar bem e obter razoável sucesso,
devia e deve contar com um fator fundamental: o talento. Se não tiver... Melhor
que procure outra atividade, para não ter que conviver com um rosário de
fracassos e frustrações. Só que hoje, a informática liberou-o de uma infinidade
de tarefas enfadonhas e rotineiras, proporcionando-lhe tempo e condições para
se concentrar quase que exclusivamente no conteúdo do que vai escrever.
Por tudo isso, não são exageradas as
reverências que prestamos a um Balzac, a um Zola, a um Hugo, a um Dostoievski e
a tantos e tantos e tantos mestres da literatura mundial. Pelo contrário, eles
mereceriam mais, muito mais do que isso. Além de criativos (diria, geniais),
foram, sobretudo, pacientes. Suas obras, que hoje nos ilustram e servem de
referenciais para tudo o que escrevemos, foram, literalmente, arrancadas a
muque dos seus privilegiados cérebros.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Tão difícil que nos parece impossível.
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