Nascemos
para o mundo
* Por Pedro J. Bondaczuk
O homem de espírito somente tem seu valor reconhecido quando
ou "se" comunica aos que o rodeiam suas observações sobre tudo o que
o cerca. Se compartilha as idéias que tem com um número máximo de pessoas que
lhe sirvam de "espelho" e reflitam toda essa "luz" que
emite.. Se tem opinião formada sobre vários assuntos. Se oferece ao mundo, da
mesma forma que recebe, suas criações. Se brinda a comunidade, não importa qual
– se a da rua, do bairro, da cidade, do
país ou mundial – com o produto resultante da sua atividade intelectual e da
sua sensibilidade.
O fruto da razão e da emoção só tem sentido quando se
incorpora ao patrimônio comum do nosso tempo. Quando é compartilhado com os
outros. Quando consegue despertar interesse e enriquece a cultura de um povo e
de uma época. Quando resulta em alguma conseqüência. É sua única razão de
existir.
Este é o motivo principal da minha atividade, tanto como
jornalista, quanto como "aprendiz de homem de letras". Textos como
este têm o objetivo de estabelecer um confronto de idéias e algumas vezes de
provocar quem os lê, para deflagrar uma saudável discussão, que seja proveitosa
para ambos: para o comunicador e para o destinatário da comunicação. Embora
profissional, nunca aspirei obter dinheiro com aquilo que escrevo. A venda das
minhas idéias somente ocorreu por duas razões e ambas me incomodam.
Verificou-se em decorrência da necessidade de prover minha subsistência e a da
minha família e do fato de haver quem esteja disposto a pagar por elas.
Mas isto me aborrece. Sinto como se estivesse vendendo um
filho. Ou como se estivesse me prostituindo, cedendo uma parte de mim por
dinheiro. É certo que se trata de uma recíproca. Investi muito, em termos de
recursos materiais, de tempo e de esforço para aprender o que sei. Ainda assim,
não me sinto muito confortável vendendo o que crio. Daí ter experimentado uma
inenarrável sensação de prazer ao doar os direitos de venda do meu livro
"Por uma nova utopia" a uma instituição beneficente, o Centro de
Defesa da Vida, cuja atividade se caracteriza em demover os suicidas potenciais
de cometerem essa loucura.
Por isso, a maior parte do que publico – e que não é pouca
coisa – é oferecida de forma gratuita aos órgãos que veiculam meus textos, para
que eles os divulguem ao seu público, que por conseqüência também se torna meu.
Pelo menos presumo que seja assim, caso contrário esses jornais certamente me
fechariam as portas. Não pretendo ser genial. Não, pelo menos, o tempo todo.
Tanto que nunca utilizo jargões, termos técnicos, expressões características,
mesmo quando abordo complexos temas filosóficos. Procuro ser simples nas
palavras que uso, na maneira com que exponho as idéias e nas teses que defendo.
Há algum tempo fui acusado por alguém, que se dizia meu
admirador, de fazer as citações, que caracterizam quase todos os meus textos,
por puro pedantismo. Ou seja, para exibir aos outros o meu grau de leitura. Que
bobagem. O que busco fazer é simplesmente devolver o que recebo: idéias
alheias. Claro, acompanhadas, sempre que possível, da respectiva opinião sobre
elas.
É uma forma de reverenciar os grandes pensadores, os grandes
artistas, os grandes criadores (atuando como seu espelho) e de ajudar a impedir
que eles e suas criações sejam esquecidos. Há quem goste do meu estilo, que se
propõe a ser nada mais do que uma "conversa" com os leitores, como
aquelas que nos tempos de estudante algumas pessoas têm, em geral às
sextas-feiras à noite, com os amigos, em alguma mesa de bar, regadas a chope. Ou
que outros mantêm diariamente, após a saída do trabalho, no que passou a ser
conhecido como "happy-hour".
Escrevo algumas bobagens, como acusou alguém, em uma maldosa
e desaforada carta anônima que enviou ao jornal em que eu trabalhava? (Ele
disse "só" bobagens, o que, convenhamos, é um exagero). Tudo bem!
Graças a Deus! É sinal de que ainda sou humano. Mas pelo menos tenho a coragem
de me expor. Estou disposto a me relacionar com os outros. Compartilho com os
semelhantes (e dessemelhantes) meus anseios, sonhos, virtudes e fraquezas. Mesmo
escrevendo tolices, ainda assim estou induzindo alguém a pensar. Inclusive esse
mesmo sujeito azedo e mesquinho – e certamente complexado e infeliz por
precisar se esconder no anonimato.
Dom Bosco afirmou que "Deus nos colocou no mundo para
os outros". A recíproca é verdadeira. Ou seja, os outros também existem
para nos ajudar, nos atrapalhar, nos apoiar, nos repudiar, nos aprovar ou nos
contestar. Daí a comunicação ser tão importante, seja em que plano for.
Precisamos é buscar uma interação. E quanto mais ampla e constante puder ser,
tanto melhor.
A maior prova de que não busco nenhuma vantagem com o que
escrevo, é que não conheço a maioria dos meus leitores. Não atino quantos são.
Desconheço seu sexo, sua cor, sua religião, sua etnia, sua nacionalidade, sua
condição social, seus gostos, suas idiossincrasias ou seu grau de cultura. Sei,
apenas, pelos resultados que obtenho, que não são poucos estes amigos (e
inimigos) anônimos. Mesmo que fosse um único, seria válido e bem vindo. E
escreveria para ele (ou para ela) com o mesmo entusiasmo com que o faria para
50 mil, 100 mil, 500 mil ou um milhão.
Tenho a certeza, por outro lado, que meus leitores, sejam
quantos forem, são fiéis, pelo tempo em que sou solicitado por jornais dos mais
variados portes e estilos a colaborar com eles. E pelas cartas e telefonemas
que recebo (aprovando e reprovando meus textos). E pelas manifestações de
carinho com que sou brindado na rua. E pelo meu ingresso, há já 24 anos, na
Academia Campinense de Letras. E pelo título de cidadania que recebi em 1993. E
por tantas coisas mais... Nada disso teria acontecido se não me conhecessem. E
se minhas idéias não provocassem nenhuma reação que não fosse a pura
indiferença...
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Indiferença, pode ter certeza que não, senão já o teriam aposentado por "invalidez mental". No entanto continua produzindo a mil por hora.
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