O “Santo
Graal”
* Por Pedro J. Bondaczuk
A busca da felicidade é o maior empenho do homem, em todos
os tempos, embora poucos saibam, de fato, o que os faz felizes ou tenham a mais
leve noção do significado desse conceito, que é vago e carregado de equívocos,
diferente para cada pessoa. Filósofos, escritores, poetas e psicólogos têm
apontado, através dos séculos, caminhos vários na busca desse "tosão de
ouro", desse "Santo Graal", desse ideal sem forma, sem que eles
próprios, na maioria das vezes, o tenham encontrado.
O indivíduo feliz é aquele que encontra razões para viver
até o seu último sopro de vida. Ou, pelo menos, esta é uma das faces desse
diamante multifacetado chamado de "felicidade". O mundo não é mau,
como ouvimos e lemos amiúde, desde tenra infância. A existência não é ruim, um
vale de dores e de lágrimas, como asseguram furibundos e fanáticos pregadores
ascéticos. A felicidade não é uma ocorrência rara e virtualmente ilusória. Nós
é que complicamos a vida.
Nossa vaidade, nossa arrogância e nossa prepotência contra o
próximo é que, como a mola, voltam para nós com a mesma força com que as
destinamos aos outros e nos oprimem, nos machucam e nos humilham. Corremos o
tempo todo atrás de sombras e não percebemos a substância parada bem diante dos
nossos narizes...
Lembro, a título de esclarecimento, que Santo Graal é uma
expressão medieval que designa, normalmente, o cálice supostamente usado por
Jesus Cristo na ceia que antecedeu sua prisão, seu arremedo de julgamento e sua
conseqüente crucificação. Sua busca fascinou (e ainda fascina) pessoas das mais
variadas personalidades e atividades, como aventureiros, pesquisadores e,
sobretudo, religiosos, mundo afora.
Está presente em inúmeras lendas, que atravessaram séculos e
chegaram aos nossos dias. Existem muitos questionamentos a respeito, sobre a
sua natureza, formato e, até mesmo, existência. É, realmente, um cálice? Onde
está? Com quem? De fato existe? Ninguém ousa, ou sabe responder.
Mas, voltemos ao tema, objeto desta crônica. Um dos maiores
pecados que uma pessoa pode cometer, se não o maior, é o de não ser feliz. É o
de alimentar rancores, inveja, cobiça e egoísmo, em detrimento dos sentimentos
nobres, das emoções sadias e dos atos de grandeza. A felicidade, ao contrário
do que muitos pensam, não consiste na posse de bens materiais e nem na companhia
de pessoas que os sirvam e bajulem. Estes até podem contribuir para que sejamos
felizes, mas, sozinhos, não nos proporcionam essa desejada bem-aventurança.
A felicidade não é nada concreto, visível ou palpável, mas
um conceito, uma postura, um comportamento. É, por exemplo, a satisfação com o
que se tem. É a alegria com as aparentemente pequenas coisas da vida que, no
entanto, são as que realmente contam. É saber se emocionar com o nascer e o
pôr-do-sol, o desabrochar de uma flor, o sorriso de uma criança e, sobretudo,
nutrir genuína gratidão pelo privilégio de viver.
Há pessoas que deixam de usufruir a felicidade por não a
saberem sequer identificar. Contam, por exemplo, com uma família unida e
amorosa; são cercadas de afeto de múltiplos amigos, mas não sabem dar valor a
esse magno privilégio, alheias ao fato de que a maioria não conta com essa
bênção. Apostam na infelicidade e findam por, de fato, serem infelizes.
Devemos ser pródigos em agradecimentos e parcimoniosos em
reclamações. Caso contrário... Seremos
rematados tolos de chutar nossa felicidade para um lugar em que jamais a
conseguiremos alcançar. Ninguém, em lugar algum, é feliz o tempo todo. Isso não
existe. Sempre haverá uma preocupação, uma angústia, um contratempo, um
desgosto qualquer, pequeno ou grande, para nos atormentar. Isso, contudo, não
pode influir em nosso humor, não pelo menos por muito tempo. A felicidade é
constituída de “momentos”, mais ou menos duradouros, de acordo com nossas ações
e, também, da nossa percepção.
Há pessoas que perdem não apenas um minuto, mas horas sem
fim, dias, meses, anos, quando não a vida toda, acalentando mágoas, chateações
e desejos de vingança, abdicando da possibilidade de serem felizes. Vale a pena
abrir mão de tanto por tão pouco? Claro que não! Se há um tema que sempre vai
gerar infinitas especulações, este é o da felicidade. Pessoas de todas as
partes, profissões e condições sociais têm sua “receita” pessoal para serem
felizes. Todas são válidas, pois a maioria é fruto de uma experiência própria.
Nenhuma, porém, é absoluta. Também tenho a minha “fórmula” que, como as demais,
é passível de ser contestada.
Creio que o caminho mais curto para a felicidade é sabermos
valorizar o que temos e o que de bom nos acontece. É gozarmos de boa saúde,
termos uma família amorosa e unida e uma infinidade de amigos, leais, solícitos
e presentes. É conservarmos o bom-humor nas piores circunstâncias e encararmos
a vida por uma ótica sempre otimista.
Tenhamos, pois, fé no futuro e façamos a nossa parte para
tornar o mundo melhor, mais solidário e mais justo. Sejamos, sempre, a “cabeça”
do corpo social, jamais a “cauda”. E ousemos exercitar nosso talento, não no
sentido de buscar glória ou fortuna, mas de justificar a nossa existência. Não
tenhamos, sobretudo, medo de sermos felizes. Só assim teremos condições de
conquistar e, mais do que isso, de usufruir, desse tão procurado Santo Graal,
que está ao alcance das nossas mãos, mesmo que não venhamos a nos dar conta
disso. Simples assim!
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Posso estar equivocada, mas parte da sua fórmula sugere que o conformismo, o morno e o banal podem ser felicidade. Não tenho a receita, mas parte dela tem a ver com saúde. Sem ela não somos nada. Nem o prazer de um banho a sós podemos usufruir.
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