Pílulas literárias 219
* Por
Eduardo Oliveira Freire
FAMINTOS
Um dia, encontraram-se
e mesmo sabendo que iria acontecer, beijaram-se até desaparecerem.
“INVEJOSA”
Todos consideravam que
Andreia tinha inveja de Ana. Na verdade, só a queria para ela. Imaginava
amigas-irmãs a viajarem o mundo, deixando para trás a pequena cidade onde nada
acontecia.
ALEJANDRA (2007)
–Alô, sou eu,
Alejandra. Não adianta disfarçar a voz, observo você faz tempo, desde que
acabou de ler o livro Sobre Heróis e Tumbas, tem medo que eu apareça nua e o
afogue no mar obscuro e revolto. Sou a princesa-dragão e a minha enfermidade
produz pesadelos terríveis em você, sou amaldiçoada. Não tem curiosidade em me
conhecer profundamente? Precisa atravessar o túnel-poço-cloaca para conhecer
minha diabólica e incestuosa existência. Apesar de dizer que “ninguém merece
uma Alejandra na vida real”, ficou fascinado por mim. Há obras de arte que nos
marcam como gado, pior, queimam a alma. Sou uma deusa muito antiga, em minhas
veias corre o sangue de povos milenares. Como já sabe o meu nome tem nove
letras que nem a minha pátria. Por favor, não fica mais escrevendo isto na
agenda e falando com a primeira pessoa que encontra, não pega bem. Um leitor
atencioso percebe isso e você não descobriu a pólvora, querido. Há uma fúria em
mim, herdei da minha família, principalmente do meu pai. Por isso, matei-o e me
entreguei às chamas, desejava acabar com
círculo-vicioso-metafísico-diabólico-incestuoso que me prendia. O fogo destrói
e ao mesmo tempo purifica. E aí, quer fazer a travessia do túnel-poço-cloaca?
***
CLARICE NAS REDES SOCIAIS
"Prefiro a
escuridão, vejo melhor. Os olhos não ficam poluídos com a overdose de imagens".
“Pedi para meu amigo
Dudu Oliva ler um texto que escrevi. Ele ficou surdo por minutos. Disse: O
texto grita demais”.
“Não uso maquiagem,
mas quando passo o batom vermelho de minha vó, fico outra”.
“Fiz um vídeo e postei
na net. Não divulguei. Mas, um cara que se chama Anjo Caído comentou. Apaguei”.
“Quando estou só,
Morfeus se revela ótimo consolo”.
“Acho um saco esta
história de gêneros. A alma não tem sexo”.
“Amigo Dudu, quero ser
uma gelatina cósmica também”.
“Por telefone: -
Mamãe, estou bem. Um dia a gente se vê por aí”.
“Sonhei ser cachoeira”.
“Vou embora. Partir é
minha vida. Até um dia!”
Anos depois:
“Voltei, ainda estão
por aqui? Dudu Oliva, lembra-se de mim ou já morreu?”
***
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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