“Coveiro”
*Por
José Calvino
Antônio Manoel da
Silva, apelidado por “Coveiro” sem, no entanto, nunca ter sido. Alguns coveiros
no cemitério de Casa Amarela comentavam entre si:
- O bom é que Toinho
Coveiro vende os”DNB”, Clark, relógios, pulseiras, medalhas , anéis... no
Mercado São José, sem nenhum problema...
- Ele é assim (gestos
com os dedos indicadores juntos) com a polícia.
- O comissário
Anacleto ganhou de presente um Rolex.
- Relógio de luxo que
tiramos daquele morto metido a importante, se lembram?
-Era muito metido a merda,
como se merda fosse uma grande coisa. Achei foi bom!
- Não sei pra que
depois de morto ir dentro do caixão, todo bonito!
- Enfeitado de
jóias, de terno e gravata, jóias e
sapatos caros
- DNB, Clark, mas
menino... (Risos).
- No meu tempo a gente
dizia: “Coveiro vende sapato barato...
- Eu comprei um DNB
por cinco mil réis e cruzava as pernas para mostrar as pedrinhas que ficavam
nos reguinhos do solado, se não, não era DNB legítimo (Risos).
- Vocês lembram que os
enterros dos ricos ou dos metidos a
ricos eram acompanhados de carros e os metidos até alugavam táxis e ônibus? Nos
cemitérios as flores eram jogadas por cima dos caixões deles.
- Já no enterro dos
pobres a comitiva era formada por
bêbados e o finado ia coberto de flores, para esconder os pés descalços e a
roupa de brim que o meu pai chamava de “Rói rola” . Num destes enterros a
caminho do cemitério de Casa Amarela um dos bêbados deu uma dedada no
xangozeiro, que era homossexual, chamando-o de
“Maria Aparecida”, mas a vítima
era valente e não gostava de quem o insultava, por isso até o caixão do
defunto foi derrubado. Daí por diante
ficou mais conhecido e respeitado
por: “O homem que deu no enterro”.
Voltando ao assunto do
“Coveiro”, numa conversa num dos botecos do Mercado de São José com um coveiro
aposentado do cemitério de Santo Amaro o mesmo
me disse muita coisa, inclusive
que conheceu “Tonho Coveiro” e “Feijão” e que ambos vendiam jóias, sapatos, roupas, etc.,
retirados dos cadáveres. Adiantou o mesmo
que tinha um seu colega que
praticava a necrofilia e outras coisas
mais... Por fim, me contou uma novidade:
“Outro mandou construir sua casa
com o dinheiro da venda do anel de brilhantes do ex-governador Miguel Arraes.
*Escritor,
poeta e teatrólogo pernambucano.
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