Creio no que digo
* Por
Emanuel Medeiros Vieira
O lirismo sempre é
necessário e vital - principalmente nos momentos de maior turbulência.
Para a Célia
"De todos os deuses,
Amor é o
primeiro".
(Platão - 428/427 a.C
-348/347 a.C)
A primeira recusa do
beijo
não anula a esperança
(de que serás
contemplado mais tarde - um bálsamo, revelação).
A primeira negação não
é definitiva - e não será a última.
Mas, afinal, porque te
importa tanto o beijo?
Porque o beijo vai
além do beijo.
E só será sentida
(bem) mais tarde a dureza de sua ausência - pedra.
(Porque o teu ofício é
amar.)
Não, não o beijo
casual, frio ou protocolar, mas o beijo que arrepia a pele, que te
"inunda" - como cachoeira - do "outro" (sim, teu
semelhante, uma outra subjetividade).
Eu sei: um beijo é um
beijo.
Como uma rosa é uma
rosa.
Mas nesta tua passagem pelo planeta, ele é travessia, até
chegar a terceira margem do rio.
Um beijo é sempre mais
que um beijo.
Ele é um pedaço desta
tua vida - breve, fragmentada, mero sopro.
O velho já está no
menino (e há um beijo na face enrugada).
E neste caminho
(áspero, luminoso) estará sempre - sempre - um beijo.
Ou a eterna colheita
dele.
(Brasília, novembro, e
Salvador, dezembro de 2015)
* Romancista, contista, novelista e
poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis –
ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos
domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre
outros.
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