segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Creio no que digo


* Por Emanuel Medeiros Vieira

O lirismo sempre é necessário e vital - principalmente nos momentos de maior turbulência.

Para a Célia

"De todos  os deuses,
Amor é o primeiro".
(Platão - 428/427 a.C -348/347 a.C)

A primeira recusa do beijo
não  anula a esperança
(de que serás contemplado mais tarde - um bálsamo, revelação).
A primeira negação não é definitiva - e não será a última.

Mas, afinal, porque te importa tanto o beijo?
Porque o beijo vai além do beijo.
E só será sentida (bem) mais tarde a dureza de sua ausência - pedra.
(Porque o teu ofício é amar.)

Não, não o beijo casual, frio ou protocolar, mas o beijo que arrepia a pele, que te "inunda" - como cachoeira - do "outro" (sim, teu semelhante, uma outra subjetividade).
Eu sei: um beijo é um beijo.
Como uma rosa é uma rosa.

Mas nesta tua  passagem pelo planeta, ele é travessia, até chegar a terceira margem do rio.
Um beijo é sempre mais que um beijo.
Ele é um pedaço desta tua vida - breve, fragmentada, mero sopro.
O velho já está no menino (e  há um beijo na face enrugada).
E neste caminho (áspero, luminoso) estará sempre - sempre - um beijo.
Ou a eterna colheita dele.

(Brasília, novembro, e Salvador, dezembro de 2015)

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. 



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