Perfeccionismo sem obsessão
O poeta norte-americano Robert Hiilyer,
ganhador de um Prêmio Pulitzer de poesia, afirmou, certa ocasião, que “o
perfeccionismo é um perigoso estado de espírito em um mundo imperfeito”.
Concordo com ele, mas apenas em parte. Queiram ou não, tudo, ou quase tudo em
nossa vida é relativo. Devemos, pois, considerar as duas faces da moeda. A
perfeição – não é novidade para ninguém – é algo difícil, se não impossível, de
se conseguir. Nem por isso, todavia, devemos deixar de tentar. Só assim,
tentando, tentando e tentando, conseguiremos fazer o melhor, seja qual for a
tarefa que nos propusermos a executar. O que não podemos é transformar o
perfeccionismo em obsessão, em fonte de decepções diante da imperfeição do que
fizermos, de contínuas frustrações e, por conseqüência, de sofrimentos.
Uma das dificuldades das pessoas
criadoras é, por exemplo, a de encontrar final perfeito para suas obras, quer
se trate de um poema, de uma sinfonia ou, mesmo, de uma carreira acadêmica ou
profissional. No caso dos escritores, os perfeccionistas sempre encontram
alguma coisa a cortar, a acrescentar, a mudar, mesmo que aquilo que fizeram
pareça perfeito a terceiros. Esse perfeccionismo, destaque-se, não é negativo. Claro,
desde que não seja levado a extremos, que não se transforme, reitero, em
obsessão. Que não nos leve a abortar a obra que estivermos fazendo, que seja de
razoável para boa qualidade, apenas porque não é perfeita. Muitos agem dessa
maneira.
É melhor concluirmos o que nos propusermos
a fazer, mesmo que nos pareça, ou que seja de fato, obra imperfeita e aquém das
nossas possibilidades, do que hesitarmos, ou
adiarmos ou, pior, abandonarmos sua conclusão. No meu caso, confesso-me
perfeccionista convicto em minha atividade de comunicador, tanto como
jornalista, quanto, e principalmente, como escritor. Já fui obcecado na busca
da perfeição. Hoje não sou. Admito e aceito minhas limitações, embora busque
superá-las. Já abortei, por exemplo, uma infinidade de textos, livros inteiros,
considerados de boa qualidade pelos que os leram, por entender que careciam,
entre outras coisas, de clareza. Em vez de preservá-los, para trabalhar neles
em ocasião oportuna, mais propícia, de maior lucidez, simplesmente os destruí,
sem que deles restasse o mínimo vestígio. Tolice, claro. Foi, no mínimo, enorme
desperdício de tempo e de esforço.
Comecei a cair na realidade no
jornalismo. Também nessa atividade empenhei-me por redigir textos perfeitos.
Igualmente me frustrei e me senti tentado a destruir o que escrevia e que
julgava aquém do meu potencial, do meu critério de avaliação de qualidade.
Todavia, em jornal, trabalhamos de olho no relógio, que é nosso implacável
feitor. Temos uma coisa chamada “deadline”, ou seja, prazo final e inadiável
para concluir as matérias de que formos incumbidos, para serem estampadas no
jornal do dia seguinte. Se abortarmos todos os textos que redigirmos, por não
gostarmos deles, não teremos, óbvio, como concluir nossas tarefas. O resultado,
fatalmente, será o clássico “bilhete azul”, a demissão sumária e irrevogável,
por incompetência.
De uns tempos para cá, passei a ser
regido por inflexível “deadline” também na produção literária. Assumi uma
quantidade tão grande de compromissos diários, com sites, blogs e jornais
impressos, que não posso nem pensar em refazer qualquer texto imperfeito, a
menos que se trate de ridículo monstrengo eivado de erros gramaticais, sob pena
de não cumprir o comprometido. E o cumprimento do que trato, para mim, é
sagrado! O que escrever, portanto, tem que sair o mais perfeito possível, e de
cara, na primeira versão. A máxima concessão que me posso fazer é proceder a
atenta (posto que veloz) revisão, fazendo os acréscimos e os cortes mais
urgentes que se mostrarem necessários. E atentando, sobretudo, para a correção
gramatical. No mais... Às vezes acerto e os textos saem, surpreendentemente, de
acordo com meu rígido critério de qualidade. Na maioria das vezes, porém... frustro-me,
rotundamente. Pudera!
O problema, no caso, não está no
perfeccionismo. Está, isso sim, no exagero dos compromissos assumidos, tremenda
armadilha que eu mesmo montei para me amofinar. Normalmente, não gosto do que
escrevo. Apenas, se tanto, 5% dos textos que produzo me agradam e
relativamente. Não me refiro ao conteúdo, porquanto tenho extremo cuidado nas
pesquisas dos temas de que trato, para não cometer nenhuma barbaridade,
qualquer disparate que me leve a cair em ridículo. O que me incomoda é a forma
de exposição, pois tenho a convicção de que sei e que posso escrever melhor,
com maior clareza e precisão, do que usualmente escrevo. Ademais, limito o
campo de atuação, abordando, praticamente, um único assunto: Literatura.
Tente, paciente leitor, escrever três
milhares de textos, como fiz até aqui, nestes últimos dez anos, tratando de um
só tema, recorrente, e sem se repetir nenhuma vez. É, no mínimo, tarefa para
Hércules e seus doze mitológicos trabalhos. Todavia, nem forçando muito a barra
sou sequer arremedo desse semi-deus grego, filho de Zeus.Ainda assim, não me
oponho (pelo contrário, defendo) ao perfeccionismo, sem fazer dele, no entanto,
obsessão. E tendo em mente a advertência do poeta Robert Hiilyer, de que ele se
trata de “perigoso estado de espírito em um mundo imperfeito”.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Procurar melhorar, mas se buscar a satisfação total na leitura, o envio do material corre risco de não sair. Não destruo, mas também não publico o que não aprecie.
ResponderExcluirpostei na minha revista com os créditos. Abraços e Saudações literárias.
ResponderExcluirhttp://bit.ly/1Mk1XAg Perfeccionismo sem obsessao