O mal explicado 7 a 1 do Mineirão
A goleada que a Seleção Brasileira sofreu, diante da
Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, promovida pelo nosso País, para mim permanece
sendo um mistério. Que aqueles 7 a 1 do Mineirão foram o maior vexame da
história do nosso futebol é ponto pacífico para muitos. Não, todavia, para
todos. Para mim, pelo menos não é. Precisamos colocar as coisas no devido
contexto. O placar foi elástico demais, não há dúvidas. O goleado foi o País
sede, o que também jamais havia acontecido. Porém, a derrota ocorreu em uma
semifinal de Copa e não em fases preliminares. Embora não pelo mesmo placar, a
Seleção Brasileira perdeu, nessa mesma etapa da competição, em outras ocasiões.
Pior, na minha avaliação, foi a eliminação brasileira na
Copa de 1966, no Mundial da Inglaterra, quando não passou sequer para a fase de
mata-mata. Nesse aspecto, portanto, abstraindo o placar, o 7 a 1 não foi o
maior vexame do futebol brasileiro, como os derrotistas, com complexo de viralatas, apregoam aos
quatro ventos, com indisfarçável satisfação. Chegam a babar de prazer quando
falam a respeito. Não sei se tenho raiva ou pena dessa gente. As copas do mundo
refletem a qualidade do futebol que se pratica nos países participantes? De
jeito nenhum!!! Refletiriam caso a forma de disputa fosse outra, por pontos
corridos, com todos jogando contra todos, em turno e returno, onde a
regularidade prevalecesse. Por motivos de custo, isso é inviável. Não se trata,
pois, de um campeonato, mas de uma copa.
Por isso, há que se relativizar tanto as cinco conquistas brasileiras,
quanto seus quinze fracassos. E a Seleção fracassou não só uma, mas duas vezes como
promotora do evento e tendo o País como sede. Nem nesse aspecto, porém, é a maior
perdedora da história. O México também promoveu duas copas e não ganhou nenhuma
delas. Não chegou nem à final e nem à semifinal, como o Brasil. Aliás, jamais
conquistou um mundial. O que me deixa abismado são as conclusões dos
comentaristas esportivos (todos sem nenhuma exceção), de televisão, rádio,
jornais e internet, sobre os 7 a 1 do Mineirão. O torcedor comum, que não
dispõe de câmeras, microfones e espaços nos veículos impressos ao seu dispor,
pode cometer os maiores disparates sobre o que quer que seja, sem problema
algum. O máximo que lhes pode acontecer é caírem em ridículo e eles nem mesmo
se importarão com isso.
Todavia profissionais, que ganham a vida emitindo opiniões,
não têm o direito de serem afoitos, parciais e desatentos. Está em jogo o que mais
deveriam prezar em suas carreiras: a credibilidade. E o que tenho ouvido e
lido, desses comentaristas, permitem-me que duvide de sua competência. Uma das
tantas bobagens que essas figuras (algumas sumamente arrogantes, que se acham
infalíveis e donas da verdade), apregoam, desde o histórico (e histérico) 7 a
1, é que o futebol brasileiro tem um único jogador que pode ser chamado de
craque: Neymar. Não nego, óbvio, a capacidade desse atleta, mas discordo dessa
conclusão. Os comentaristas dizem que nenhum jogador brasileiro é protagonista
nos clubes do exterior que defendem. Têm certeza disso? Wilian, por exemplo, é
mero coadjuvante no Chelsea? Quem lhes disse? A direção do clube inglês está
supervalorizando o atleta ao pretender antecipar a renovação do seu contrato por
mais cinco anos? As diretorias dos grandes clubes são integradas por tolos, que
nada entendem de futebol e gostam de queimar dinheiro? Ora, ora, ora.
Querem outro caso de protagonismo? Hulk, no Zenit de São Petersburgo.
Antes, já havia brilhado no Porto. Digam para os torcedores russos que ele é “cabeça
de bagre” como vocês insinuam. Douglas Costa não é protagonista no Bayern?
Thiago Silva e David Luís não são no PSG? Douglas Coutinho não é no Liverpool?
Se nossos jogadores são tão ruins, por que potências futebolísticas, como
Espanha, Itália e Alemanha, por exemplo, empenham-se tanto na naturalização de
vários deles para que defendam suas respectivas seleções? Bem que o saudoso
compositor Antonio Carlos Jobim tinha razão quando dizia que fazer sucesso, no
Brasil, é considerado grave “delito”.
Citei, apenas, estes nomes, a título de exemplo. Há inúmeros
outros, sem dúvida que poderiam ser mencionados, aliás, dezenas deles. Há “brazucas”
brilhando em todos os lugares (até na Austrália, Malásia, Vietnã etc.etc.etc.).
O Brasil continua sendo se não o maior, um dos maiores exportadores de atletas,
e não apenas para os centros mais desenvolvidos, sobretudo em termos
futebolísticos, mas também para os emergentes, como o Leste europeu, Turquia,
Grécia, China, países árabes e agora a Índia. Isso é coisa de país
futebolisticamente decadente? E só por causa do 7 a 1, vexatório pelo placar e
circunstâncias, mas meramente acidental? A Alemanha pode jogar com nossa
Seleção mil vezes que seja e jamais conseguirá outra goleada sequer próxima da
que aplicou no Mineirão.
Gostaria que a Literatura esportiva explicasse o que de fato
aconteceu e que determinou tão rotundo fracasso. Alguma coisa, que a imprensa
não detectou, ocorreu às vésperas desse jogo: alguma briga, algum complô dos
atletas ou sabe-se lá o quê. Não se trata de nenhuma teoria da conspiração. Que
aquela Seleção estava mal preparada, física, técnica e animicamente, é para lá
de óbvio. Estava mal treinada. Mas não era para tanto, para um vexame tão
grande. Alguma coisa fora do normal ocorreu nos bastidores (além das ausências
de Neymar e de Thiago Silva). Mas, o quê? Se algum especialista descobrir precisará,
claro, de um livro inteiro para explicar. Não ficarei nada surpreso se isso
vier à tona dentro de alguns anos. Tudo bem que a Copa das Confederações não é
parâmetro para avaliar estágio técnico de qualquer grupo. Mas não é possível
que uma seleção, que a tenha conquistado com brilhantismo técnico só um ano
antes, tenha mostrado tamanha falta de competitividade e competência, como a
equipe canarinho mostrou nos 7 a 1 do Mineirão.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Uma voz discordante, e que me parece lúcida.
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