De coração
escancarado
* Por Pedro J.
Bondaczuk
O poeta olímpico alemão --- uma das
glórias não somente da literatura germânica, mas das artes e das letras
universais de todos os tempos ---, Johann Wolfgang Göethe, registrou, em um dos
seus tantos e memoráveis escritos, que "o homem é sempre o assunto mais
interessante para o homem". E se atentarmos bem, concluiremos que se trata
de inquestionável fato!
Há todo um elenco de crenças, de
dúvidas, de comportamentos, de angústias e de sentimentos que julgamos íntimos,
singulares e pessoais, mas que na verdade são comuns a todas as pessoas, não
importando sua nacionalidade, sua condição social, sua filosofia, sua religião
ou o seu grau de cultura.
Por isso, não tenho nenhum, nem o mais
ligeiro pudor, em abrir o meu coração aos leitores, em desnudar minhas emoções
em público e em revelar coisas que o bom senso manda calar e que a lógica
recomenda que sejam ocultadas. O que para alguns pedantes, que pretendem ser
árbitros do comportamento e do bom gosto,
pode soar piegas, pretensioso e "cafona", para indivíduos
simples, de alma pura e que sabem compartilhar de tudo, desde bens materiais a
pensamentos e sentimentos, acaba por se constituir em uma benfazeja, sadia e
indispensável comunicação, quando não na generosa partilha do patrimônio
espiritual ou na benéfica comunhão de ideais e de aspirações.
Aliás, este gratíssimo (pelo menos para
mim) exercício diário da crônica (sim, amigos, há vinte anos escrevo pelo menos
uma delas por dia), textos publicados internet afora, além de em jornais
impressos, que cumpro, religiosamente, com a maior satisfação e orgulho (e não
sem uma imensa dose de ingenuidade), é mais do que mera, eventual e tímida
abertura do coração.
É um contínuo escancarar das emoções. É
um talvez insensato arrombamento das comportas da timidez. Mas é, sobretudo, um
delicioso e despreocupado bate papo com pessoas que, na maioria, não tive (e
provavelmente nunca terei) o privilégio de conhecer pessoalmente e que ainda
assim têm a generosidade de me dar o retorno das mensagens que busco
transmitir.
Através do bem vindo recurso da
Internet, em especial do e-mail, invariavelmente, esses leitores sensíveis e
atentos manifestam-se, com espontaneidade, com grandeza e com generosidade,
mesmo quando não compartilham das minhas opiniões. Elogiam, criticam, fazem
reparos, condenam ou agradecem as crônicas (já são 3.108 publicadas em vários
espaços desde 1995, ou seja, vinte anos de convívio) ditadas pela minha
experiência de vida, pela imaginação, por algum palpite ou pela incontida
necessidade de compartilhar alegrias, iras, indignações ou tristezas.
Há aqueles de mais iniciativa,
inclusive, que têm o capricho de pesquisar até descobrir o telefone da minha
casa para, de viva voz, manifestarem sua aprovação (ou reprovação) àquilo que
escrevo. Essa atitude, quer seja para enaltecer, quer para criticar, acaba
sendo extremamente gratificante e por isso desejável. É, acima de tudo,
bastante útil, por me fornecer um parâmetro de como, o que e para quem
escrever.
Esse elo, estabelecido com os caros
leitores, público exigente e especial, é o maior prêmio que eu poderia aspirar
por esses anos todos de exercício da atividade de comunicador, quer como
radialista, quer como jornalista ou quer como escritor, que me trouxe mais
mágoas, tristezas e decepções do que eventuais recompensas, mesmo as materiais,
que são secundárias.
Escrevo para os simples, os humildes,
os sinceros, os que acreditam na virtude e a cultivam, aos ingênuos e puros de
coração. Quero comunicar-me com os que têm a visão exata dos objetivos da nossa
curta, rapidíssima e na maioria das vezes tormentosa passagem por essa vida.
Amo os sinceros e a sinceridade, os humildes e a humildade e os simples e a
simplicidade, tão bem retratados nestes magníficos versos de Guilherme de
Almeida:
"Simplicidade...Simplicidade...
Ser
como as rosas, o céu sem fim,
a
árvore, o rio...Por que não há de
ser
toda gente também assim?
Ser
como as rosas: bocas vermelhas
que
não disseram nunca a ninguém
que
têm perfumes...Mas as abelhas
e
os homens sabem o que elas têm!
Ser
como o espaço, que é azul de longe,
de
perto é nada...Mas quem o vê
---
árvores, aves, olhos de monge... ---
busca-o
sem mesmo saber por quê.
Ser
como o rio cheio de graça,
que
move o moinho, dá vida ao lar,
fecunda
as terras...E, rindo, passa,
despretensioso,
sempre a cantar.
Ou
ser como a árvore: aos lavradores
dá
lenha e fruto, dá sombra e paz;
dá
ninho às aves; ao inseto, flores...
Mas
nada sabe do bem que faz.
Felicidade
--- sonho sombrio!
Feliz
é o simples que sabe ser
como
o ar, as rosas, a árvore, o rio:
simples,
mas simples sem o saber!"
Eu devo esta gratidão aos caros
leitores! E prometo tudo fazer para durante ainda muitos anos satisfazer suas
expectativas e aprimorar esse gratificante contanto diário em diversas mídias.
De coração escancarado, só posso dizer-lhes: muito obrigado pela honra do seu
prestígio!
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Você que é das datas, assim como eu, certamente não escreveu isso aleatoriamente, mas num dia específico. Imagino que hoje seja o aniversário da sua primeira crônica. Imensa obra. Eu comecei há dez anos e raramente escrevo mais de um texto por semana. Não dá para comparar com a sua produção. Reclamação: o nariz de cera me levou a acreditar numa grande revelação. Enganou-me, garbosamente.
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