A
outra
* Por Evelyne
Furtado
Inês vinha de um casamento desastroso.
Estava separada há dois anos, período no qual havia tido umas duas tentativas
de relacionamento que a deixaram mais frustrada ainda. Passara a evitar os
homens com medo de novamente se machucar.
Disfarçava sua carência afetiva realizando atividades que a impediam de pensar no assunto. Iniciara uma nova carreira cursando Direito na universidade, motivo que a levou a mudar de emprego, aceitando a vaga de secretária em um conceituado escritório de advocacia.
Para Inês o dia começava de madrugada, pois freqüentava a academia no primeiro horário. Trabalhava o dia inteiro e estudava à noite.
Convivia com outros homens, mas nenhum chegara a despertar mais do que a agradável sensação de que era desejável.
Sentia-se protegida até que o seu novo chefe começou a elogiar seus atributos morais, ao contrário dos outros homens que sempre exaltavam sua beleza. Confiava nela, contando-lhe sobre a sua vida sem graça, pois a mulher sofria de uma enxaqueca crônica, que requeria seu apoio, porém impedia que seu casamento fosse completo.
Dizia-lhe que a mulher era uma pessoa ótima, mas que ele sentia falta de alguém especial que lhe proporcionasse paixão.
Inês passou a ser sua confidente e cada vez mais próxima dele. Aguardava ansiosa as chamadas à sala do chefe. Notava os olhares dele e gostava disso. Na primeira carona que ele lhe ofereceu ela perdeu aula na faculdade. Foram a um restaurante discreto onde conversaram mais sobre a vida dela que lhe contou o que havia sofrido no casamento desfeito.
Ele a confortou. Lastimou não terem se conhecido antes e confessou-se apaixonado. Inês assustou-se, mas não resistiu ao beijo intenso quando ele a deixou
Nessa noite, o sexo foi bem melhor e Santa dormiu mais feliz. Ele quase não dormiu pensando em Inês.
A partir desse dia Inês já não resistiu. Amava aquele homem bom e compreensivo que se dizia apaixonado por ela. Percebia todos os inconvenientes da situação. Não queria acabar um casamento, mas ela havia dito que já não existia casamento e sim uma amizade entre ele e a mulher.
Inês passou a ser a outra e apaixonada andava nas nuvens. Tentava disfarçar seu amor, mas quando se encontravam a sós, entregava-se ao homem que a deixava louca de desejo.
A felicidade inicial inibia qualquer questionamento ético ou moral. Nada era pecado para quem amava e eles se amavam. Sua vida passou a esperar pelas oportunidades que podiam desfrutar. Nada mais lhe interessava.
O melhor dia da semana era segunda-feira, quando se viam após o fim de semana no qual ela passava só aguardando qualquer sinal da parte dele. Não saía de casa, pois ele poderia entrar a qualquer hora no msn.
O celular ficava ligado o tempo todo. Os amigos reclamavam sua presença, mas ela não se incomodava Nos fins de semana, ela não dormia, não relaxava, não descansava.
Sentia-se inerte, pois não podia ligar
para ele. Tinha que esperá-lo e se no começo ele ainda dava alguma notícia, com
o tempo dizia ter ficado difícil se comunicar e toda espera era inútil.
Inês começou a juntar raiva, rancor, tristeza e decepção em seu íntimo, que, porém, desaparecia quando entrava na sala dele e se jogava em seus braços. Ele, que no começo sentia uma atração louca por ela (atração confirmada com o ótimo entrosamento sexual), começou a sentir uma certa preocupação com o prolongamento daquela relação, afinal tinha um bom casamento, não queria se separar.
A proximidade o incomodava e ela passou a percebê-lo diferente. Ele negava e dizia que era impressão. Inês vivia eternamente
Dessa forma o triângulo resistiu um bom tempo. Santa que tivera um certo medo de perder o marido obteve deste a promessa de que jamais a deixaria.
Inês sofria calada, mas esquecia qualquer dor quando podia estar com ele. Chorava e ele a acalmava. Dizia amá-la e pedia paciência, embora nas férias viajasse com a família deixando-a um mês, sem mais que dois ou três telefonemas.
Ele sentia-se bem com a sua família e amava a sua mulher a seu modo. O que lhe faltava encontrara
Sentia saudade da outra quando estava longe, mas jamais poria seu casamento em perigo por isso. Quando voltasse ele a confortaria como sempre fazia e tudo voltaria ao normal.
* Poetisa e cronista de Natal/RN
Um triângulo que poderá durar duas décadas, ou uma vida. Todos ganham, ou todos perdem?
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