Dia do enteado
* Por
Marcelo Sguassábia
Nunca foram tão maus
os bocados vividos pelo comércio. Cada porta ainda aberta se vira como pode
para não ter que passar o ponto. Ou virar igreja. Com sorte ou persistência se
arranja um fundinho de ânimo para prosseguir respirando com a ajuda de aparelhos.
Vai daí que, de novo,
a necessidade vem se revelando a mãe da criatividade. Por meio de pesquisas,
descobriu-se um fato surpreendente e até o momento não explorado no calendário
promocional: há mais enteados no mundo do que qualquer outra coisa - incluindo
aí pai, mãe, avós, irmão, namorado, sogra, cunhado e quem mais se queira
elencar como homenageado no calendário promocional.
A razão é simples. De
uma obviedade que dá até raiva, e que nos faz perguntar como é que nenhuma
associação comercial de não sei de onde nunca pensou nisso antes. Considerando
que mais ou menos 90% dos casamentos de hoje acabam em divórcio, divórcio esse
que não raro resulta em outro - ou outros - casamentos, é lógico que o número
de enteados tende a ser enorme e a crescer absurdamente. Imagine, por exemplo,
uma sequência de cinco casamentos. E que, nas primeiras núpcias, o casal teve
um filho. Esse menino só vai ter evidentemente um pai e uma mãe, mas vai ser
enteado de quatro madrastas e quatro padrastos, se seus pais se casarem outras
quatro vezes. Fez a conta de onde pode parar a brincadeira? Existindo o Dia do
Enteado, os quatro pais e as quatro mães postiças não vão ter cara de não dar
presente para o pimpolho. Isso se for um só, porque a tendência é ir aumentando
a renca conforme os casórios se sucedem.
Um amigo comerciante
já tem até o mote publicitário para uma primeira campanha: "ENTEado também
é ENTE querido". Desse jeito mesmo, o "ENTE" em maiúsculas para
frisar o trocadilho. O tema é quase uma chantagem emocional, uma espécie de
desagravo ao enteado nacional - esse injustiçado pela sociedade de consumo.
Já um outro conhecido
meu, também do setor comercial, argumenta que, instituído o dia comemorativo,
este será apenas mais uma data no combalido calendário de efemérides. E que
sendo tantos os enteados, o interessante mesmo seria dividir os presenteados ao
longo dos meses, para que o aumento das vendas contemplasse o ano todo. Dessa
forma, teríamos o "Dia do Enteado nascido em janeiro", o "Dia do
Enteado nascido em fevereiro" e assim por diante. Bem pensado. Resta saber
se vai pegar ou não.
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
Do meu ponto de vista não dará muito certo, pois até os filhos são relegados ao último plano, quando o casamento se rompe, ainda mais os enteados. Mas para fazer graça, foi ótimo.
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