Um Machado afiado?
* Por
Clóvis Campêlo
Um dos ícones da
literatura de língua portuguesa em todo o mundo, Machado de Assis, amanhã,
estaria completando 176 anos de vida.
Nascido no Rio de
Janeiro, em 21 de junho de 1839, e falecido nesta mesma cidade em 29 de
setembro de 1908. Segundo a Wikipédia, nasceu no Morro do Livramento, de uma
família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou uma
universidade. Seu pai era um mulato que pintava paredes, filho de escravos
alforriados, e sua mãe era uma lavadeira portuguesa da Ilha dos Açores. Os
biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir
socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu
diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio
e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde
publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a
colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia
Brasileira de Letras.
Ou seja, podemos
definir Machado de Assis como o "branco mulato" ou o "preto
doutor" de que nos fala Dorival Caymmi nas suas músicas. Sem dúvida
alguma, o que alguns outros classificariam de um "alpinista social".
Através do Facebook,
entre os nossos amigos virtuais, lançamos uma pequena pesquisa com o intuito de
captar como o escritor é visto hoje por seus leitores e admiradores. De
imediato, percebemos que voluntariamente ou não, Machado de Assis foi lido pela
grande maioria dos que nos responderam. Alguns, por questões disciplinares. Outros,
por curiosidade juvenil, e que nem sempre ficou uma boa impressão da leitura.
Alguém chegou a
considerá-lo um crítico da burguesia daquela época, enquanto Lima Barreto, um
seu contemporâneo, hoje pouco falado, encarregou-se de traçar o retrato do
"resto" social que pouco interessou a Machado.
Outro alguém, o
classificou como "o pai da língua brasileira, no atacado e no varejo, do
romance (Dom Casmurro, Memórias Póstumas...) ao conto (Missa do Galo, O
Alienista...), sem falar na poesia... Na dimensão psicológica, eu o acho
equivalente a Dostoievski, sem a visão trágica dos eslavos...".
Ou seja, Machado de
Assis, na ironia e na ludicidade dos seus textos, permite-nos a dúvida,
enquanto em Dostoievski, a dívida é paga com a tragédia. Será que Machado no
alto da sua brasilidade mestiça já exercitava literariamente o chamado jeitinho
brasileiro?
Mas, se a dúvida foi
um dos ingredientes dos textos machadianos, como em Dom Casmurro, onde chegamos
ao final do texto sem saber se realmente Bentinho foi traído por Capitú ou por
sua imaginação, não se pode dizer o mesmo do mistério, quase ausente. Um outro
amigo, porém, conta que estavam ele a esposa lendo na cama As Memória Póstumas
de Brás Cubas, quando adormeceram. Ao acordarem, perceberam, que o livro havia
sumido. Apesar das buscas intensas, nunca mais foi encontrado. Um verdadeiro
mistério machadiano!
Mas afinal, quem seria
o menino Joaquim Maria, que caminhos trilhara antes de chegar a ser o maior
escritor brasileiro de todos os tempos (pompa contestada por algumas das
respostas que recebemos...)? Segundo o site Releituras, "de saúde frágil,
epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no
morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa.
Com a morte do pai, em
1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num
colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces.
No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse
às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando".
No final da vida,
ainda segundo o site Releituras, "era urbano, aristocrata, cosmopolita,
reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a
abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas
histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de
tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação
psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista,
quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O
domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor
pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no
seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus
contemporâneos."
Afinal, cabe a um
grande escritor a obrigação de reescrever o mundo com uma proposição mais justa
e mais humana, ou o seu papel literário não passa obrigatoriamente por essa
função? O que acha disso?
* Poeta, jornalista e radialista,
blogs:
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