terça-feira, 9 de junho de 2015

Criptonita


* Por Assionara Souza


Pura maldade, as ilusões do cinema. Eu tinha apenas oito anos. Entrei naquela matinée. Nem sabia que estava prestes a conhecer meu primeiro amor.

O passo um tanto bambo pelo apertado do sapato. Meu pai nem estava ali. Distraída, sentei-me estrelinha entre a via láctea de assentos (Na cidade, só o cinema e o cemitério eram maiores que a igreja).

Lábios sugando no canudinho umas últimas gotas de refri. Meus olhos vesgos se ergueram quando a música estourou. Lá pelas tantas, eu meio tonta dividida entre o herói e o manso, um pouso leve e o corpo duro braços cruzados frente a mim e aquele "pega rapaz" que fazia bem assim...

O safado, imagine!, cravou-me os olhos e fez aquele sorrisim. Ai, Super Homem, vem nin mim! Mãos suadas, coração aos saltos dedos dos pé encurvados eu não era mais uma menina no cinema. Era só uma mulherzinha e seu amante.

* Escritora



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