sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pílulas literárias 207

* Por Eduardo Oliveira Freire


DONA ALINE

Desde nova, preocupava-se tanto com a vida dos outros que nunca se percebeu abandonada pela família. Completamente só, bastava-se saber de tudo que acontecia com os vizinhos. Um dia, uma vizinha lhe disse que encontrou seu marido com outra mulher e almoçavam felizes com os filhos de Dona Aline. Ela entrou em casa e ao se olhar no espelho viu seu rosto carcomido pelo tempo e um vazio brutal se apoderou dela. Desperdiçou tantos anos...

Deitou-se e desejou morrer.

***

NUVENS OCULTAM A LUA

O beijo roubado não é visto, mas sentido.  A lua aparece, agem como se nada tivesse acontecido. Mas a lembrança e o gosto do beijo roubado continuam neles. As nuvens escondem novamente a lua. Ouvem passos na mata e alguém gritar por seus nomes.

*** 
EPIFANIA

De repente, algo faz com que sonhos adormecidos acordem, revivendo um passado esquecido. Não sei se a dona da citação seja realmente Clarice Lispector, já que ClariSSe Lispector é outro nome e pessoa. Entretanto, tirando a questão autoral, a citação não deixa de ter valor, pois através dela olhei as profundezas da minha essência e me alcancei, depois de muitos anos perdido em mim.

*** 
O CORPO...

Boiando na piscina do prédio continuou na cabeça de Carlinhos. No início, ele ficou com raiva do corpo, porque a piscina ficou interditada e não podia mergulhar com os amigos. Mas o ódio persistiu, o corpo lhe revelava algo. Sentiu que perdeu sua coragem indômita e culpava o corpo por isso.

***
VERDADEIRO

Havia um cálice de ouro e uma cumbuca de barro. Um agiu com impulso e pegou a primeira. O outro usou a cabeça, escolhendo a segunda. O primeiro foi salvo e o segundo pereceu, pois o teste era para testar a sinceridade das ações.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/

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