Pílulas literárias 207
* Por
Eduardo Oliveira Freire
DONA ALINE
Desde nova,
preocupava-se tanto com a vida dos outros que nunca se percebeu abandonada pela
família. Completamente só, bastava-se saber de tudo que acontecia com os
vizinhos. Um dia, uma vizinha lhe disse que encontrou seu marido com outra
mulher e almoçavam felizes com os filhos de Dona Aline. Ela entrou em casa e ao
se olhar no espelho viu seu rosto carcomido pelo tempo e um vazio brutal se
apoderou dela. Desperdiçou tantos anos...
Deitou-se e desejou
morrer.
***
NUVENS OCULTAM A LUA
O beijo roubado não é
visto, mas sentido. A lua aparece, agem
como se nada tivesse acontecido. Mas a lembrança e o gosto do beijo roubado
continuam neles. As nuvens escondem novamente a lua. Ouvem passos na mata e
alguém gritar por seus nomes.
***
EPIFANIA
De repente, algo faz
com que sonhos adormecidos acordem, revivendo um passado esquecido. Não sei se
a dona da citação seja realmente Clarice Lispector, já que ClariSSe Lispector é
outro nome e pessoa. Entretanto, tirando a questão autoral, a citação não deixa
de ter valor, pois através dela olhei as profundezas da minha essência e me
alcancei, depois de muitos anos perdido em mim.
O CORPO...
Boiando na piscina do
prédio continuou na cabeça de Carlinhos. No início, ele ficou com raiva do
corpo, porque a piscina ficou interditada e não podia mergulhar com os amigos.
Mas o ódio persistiu, o corpo lhe revelava algo. Sentiu que perdeu sua coragem
indômita e culpava o corpo por isso.
***
VERDADEIRO
Havia um cálice de
ouro e uma cumbuca de barro. Um agiu com impulso e pegou a primeira. O outro
usou a cabeça, escolhendo a segunda. O primeiro foi salvo e o segundo pereceu,
pois o teste era para testar a sinceridade das ações.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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