Espírito moderno
* Por Pedro J.
Bondaczuk
A "modernidade" (verdadeira
abstração) tornou-se hoje a bandeira do homem contemporâneo, que mesmo não
sabendo definir com clareza o que quer dizer com o termo, jura estar empenhado
num processo dessa natureza. Os que se aferram a modismos, pensam que esse
comportamento é novo.
Hoje, lêem-se, a todo o instante, em
editoriais, notícias, entrevistas e ensaios, principalmente nos cadernos de
cultura dos jornais, termos como "modernizar a indústria", "arte
moderna", "processo de modernização da sociedade", etc. Pura
retórica. Bobagens de quem não tem o que dizer e ainda assim busca ocupar o
espaço que deveria ser destinado a idéias, que é o de que mais o homem deste
início de milênio precisa.
Ainda no século XIX, Charles Baudelaire
escrevia a esse propósito: “A modernidade é o transitório, o efêmero, o
contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o
imutável”.
Note o leitor que há já bom tempo não
surge nada de novo no cenário cultural do mundo, entendendo a palavra
"cultura" no seu significado mais amplo e abrangente. Não há novidade
consistente na literatura, nas artes plásticas, na música, na filosofia, nas
ciências sociais etc.
É uma pasmaceira só, uma mediocridade
inquietante, uma lerdeza mental contundente. É como se, de repente, a maioria
das pessoas pusesse em suas cabeças que pensar é um processo doloroso. Mas não
apenas não dói, como de quebra é algo muito saudável. Portanto, ao contrário do
que se pensa e que se apregoa, não é somente o jornalismo que passa por uma
crise de criatividade.
O escritor Graça Aranha abordou esse
tema, o do que seria moderno ou não, numa conferência que proferiu em 1924, na
Academia Brasileira de Letras. Já naquele tempo, há quase 80 anos, "modernidade"
era uma espécie de mantra para os pseudo-intelectuais, que o tempo se
encarregou de sepultar no esquecimento.
Moderno, no final das contas, é todo o
homem de pensamento lúcido, que marca o período que vive. Platão, Sócrates,
Aristóteles o foram em suas comunidades e em suas épocas. Dante Alighieri,
Camões, Alexandre Herculano, Victor Hugo etc., também. Assim como milhares de
muitos outros, hoje rotulados como "clássicos" (expressão a que
alguns pretendem dar conotação pejorativa).
Disse, Graça Aranha, na mencionada
conferência: "Que é o espírito moderno? No ardente e perpétuo movimento da
sensibilidade e da inteligência como distinguir a expressão inequívoca do
momento, o propulsor espiritual, que nos separa do Passado e nos arrebata para
o Futuro? Não será uma contradição pretender-se fixar o que só tem uma
existência imaginária e só é abstração? Para o observador, que assiste à fuga
do tempo, nada é atual; o Presente é uma ilusão. Como as águas de um rio, em
cada instante que passa, o espírito do homem não é mais o mesmo".
Para tornar o debate ainda mais obscuro
(e inútil), a moda agora é falar de um certo "pós-modernismo" (?!!).
O que significa isso, meu Deus do céu?!! Seria a anticomunicação, o uso de
palavras e construções obscuras, "entendidas" por uma minoria
absoluta, que forma uma espécie de confraria?
Seria a antiarte? A antiliteratura? A
antimúsica? Provavelmente sim! O que autoriza os pseudo-intelectuais, desses
que gostam de "brincar de cultura", a tentar ridicularizar
determinadas obras, de valor artístico e intelectual nítido, ao classificar
esses trabalhos de arcaicos, “demodés”, ultrapassados?
"Engessar" a criatividade com
regras, conceitos e métodos obscuros é fazer arte? Moderno, no nosso entender,
é todo o indivíduo, não importa em que tempo ou lugar tenha vivido, que, como
preceituou o dramaturgo irlandês George Bernard Shaw (numa das poucas vezes em
que deixou de fazer ironia com a estupidez humana), "consegue mudar a si
mesmo" antes de buscar a mudança do mundo. O resto é um conjunto de
baboseiras sem pé e nem cabeça.
* Jornalista, radialista e escritor.
Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981
e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras
funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no
Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e
“Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos &
Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da
Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário),
página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia
Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
O clímax da imbecilidade travestida de cultura foram alguns escritos de Diogo Maninard, daquele tempo em que eu perdia meu tempo com a Veja. Ele falou categoricamente que Carlos Drummond de Andrade não prestava, que a Estátua do Cristo Redentor era horrível, que Aleijadinho era uma fraude, além de que o barroco brasileiro não existe e nem nunca existiu. Está tudo lá. Quem quiser confirmar, é só ler. Eu li, e não valorizei a opinião desse falso intelectual. Sou mais você, Pedro, que sabe valorizar o que de fato tem valor.
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