quarta-feira, 8 de abril de 2015

Ajuda  bem vinda


* Por Ana Deliberador


Joaquim Maria era um homem alto, bem apessoado; usava só terno de linho claro, que contrastava com a sua pele muito negra. Era um rapagão.

Da boa paz, tinha um ótimo coração. Mas, quando bebia…

Com o passar dos anos a bebida foi acabando com ele, física e mentalmente. Vivia de pequenos biscates e da caridade do amigo que o trouxera para ali.

Tornou-se uma figura impressionante! A pele  maltratada, corpo alto envergado, nariz cada vez mais adunco, uma tosse que era ouvida de longe, voz enrouquecida, arrastando os pés como se não agüentasse o peso do próprio corpo, cérebro destruído.

Os ternos de linho de outrora deram lugar a andrajos. E, como se tudo isso não bastasse, trazia nos ombros, sempre, um machado.

Naquele dia Dona Anita estava trabalhando, no cartório, quando chegaram dois estranhos.  Conversa vai, conversa vem, logo estabeleceu-se uma discussão acalorada. As vozes subindo o tom cada vez mais.

Eles queriam que o cartório lavrasse uma escritura de terras do Mato Grosso, o que não era possível.

Dona Anita, sozinha, já não sabia mais o que fazer quando, de repente, surgiu na porta de entrada aquela figura surreal.

Joaquim parou bem embaixo do batente da estreita porta, tirou o machado do ombro, bateu com força no chão e disse:

– Tá acontecendo arguma coisa puraqui, Donanita?

Os trambiqueiros voaram porta afora e nunca mais se ouviu falar deles!

* Professora, pintora e escritora


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