Conheça de perto o Eurotúnel
O Eurotúnel, ligando a Inglaterra à França, por via
ferroviária, passando sob as águas agitadas e tempestuosas do Canal da Mancha,
é, sem dúvida, um dos maiores feitos de engenharia não apenas do século XX, mas
de todos os tempos. Surpreendem tanto o arrojo, quanto as técnicas adotadas na
sua construção. Não menos surpreendente, também, é o enorme investimento em
dinheiro para que um projeto, ou, como queiram, um sonho que durou tanto para
ser concretizado (e que foi considerado pelos céticos como irrealizável) se
tornasse realidade. Contudo, para mim, a maior surpresa não é nada disso. É o
fato de uma obra desse porte não haver se tornado, “ainda” um ícone cultural,
poderosa e irresistível atração turística que atraia milhões de curiosos. Creio
que mais cedo ou mais tarde se tornará.
Confesso que, se tivesse recursos para tal, não titubearia:
não deixaria de viver a experiência de ir da Inglaterra à França (ou
vice-versa) em um trem utilizando o Eurotúnel. Obras tidas e havidas como
maravilhas do mundo moderno, como a Ponte Golden Gate, em São Francisco, na
Califórnia; a Torre Eiffel, de Paris; o Empire State Building, de Nova York e o
Cristo Redentor, do Rio de Janeiro, apenas para citar algumas, atraem turistas
de todas as partes do mundo há muito tempo. Além do que, são eleitas como
cenários preferenciais de filmes, de enredos de romances, de contos e de
novelas e de outras tantas obras de arte. São, portanto, ícones culturais nunca
esquecidos.
Qual a razão de não ocorrer o mesmo com o Eurotúnel? Pelo
que eu saiba, apenas um único e solitário filme utilizou essa mega-obra de
engenharia como cenário. E, assim mesmo, não foi “ao vivo”. Ela não foi “locada”
para as filmagens. Utilizou-se, em vez disso, um truque de computador (com
gritantes falhas), para sua produção. Refiro-me ao filme “Missão impossível” (baseado
em série homônima de televisão, de muito sucesso), dirigido por Brian de Palma.
Confesso que não percebi que o Eurotúnel da famosa película é apenas fruto de
efeito especial. Fiquei sabendo disso na enciclopédia eletrônica Wikipédia.
Mas por que não foi utilizada a obra verdadeira se ela está
lá e é bastante acessível? Afinal, o filme foi rodado em 1996, dois anos após a
inauguração dessa miraculosa ligação submarina da Inglaterra à França, que
ocorreu, com pompa e circunstância (com as presenças, óbvio, do presidente
francês da época, François Mitterrand, e da rainha inglesa Elizabeth II) em 4
de maio de 1994. Não faltou, pois, tempo para isso. Foi medida de economia? Se
foi, foi desastrosa!
A cena em que o “fake” do Eurotúnel aparece é justamente no
clímax de “Missão impossível”, como a Wikipédia destaca. É a em que o protagonista
do filme, vivido pelo ator Tom Cruise, acima de um vagão de um trem de alta
velocidade, é caçado por um helicóptero. E é quando as “mancadas” acontecem. O
primeiro erro é a impossibilidade de vôo de uma aeronave, não importa qual, no
interior do túnel submarino. Mas essa falha ainda passa, pois em cinema tudo
(ou quase tudo) é possível. Mas há, de acordo com a Wikipédia, duas bobagens
ainda maiores. A primeira é a utilização do trem de alta velocidade, do TGV
(Train à Grand Vitesse, em francês). Esse não é o sistema operado no Eurotúnel.
O veículo que opera ali, levando passageiros de Folkestone, no Reino Unido, a
Coquelles, em Pas-de-Calais, perto de Calais, no Norte da França, é o Eurostar.
Também é de alta velocidade, mas não é TGV.
O segundo erro de continuidade é o que mostra um único túnel
retangular, com duas linhas de trem. O Eurotúnel, todavia, utiliza dois!!! E
ambos são fisicamente separados, sendo um para quem se dirige à França e o
outro para quem vai para a Inglaterra. Daí ser lógico e lícito se concluir que
quem fez o truque de computador jamais esteve nessa obra espetacular. Não
conhecia nada, absolutamente nada do Eurotúnel. Custava fazer a travessia, nem
que fosse por simples curiosidade? Se o fizesse, não cometeria os erros que
cometeu, mesmo recorrendo a truque de computador. Claro que isso não invalida o
filme de Brian de Palma, que rendeu, até, excelente bilheteria. Mas ele poderia
ser ainda melhor caso se atentasse para detalhes tão simples, facilmente perceptíveis
para quem já fez essa travessia por baixo do Canal da Mancha.
O Eurotúnel tem, além do Eurostar, para transporte de
passageiros, mais dois sistemas. O primeiro é o “Eurotunnel Shuttle”, o maior
veículo de transporte de cargas do tipo roll on/roll of do mundo. O segundo é
um serviço de trens de transporte ferroviário internacional convencional.
Portanto, escritor amigo (ou mero “aspirante” a sê-lo), se você estiver
pensando em fazer, um dia, dessa obra monumental cenário para o enredo de
alguma de suas histórias que esteja projetando, ou mesmo já escrevendo, tenha,
pelo menos, a cautela de conhecê-la pessoalmente. Dê um jeito de arranjar uma
graninha e faça um “tour”, de preferência de ida e volta, pelo Eurotúnel.
Asseguro que, sob todo e qualquer aspecto, não irá se arrepender. Fica, aí,
minha sugestão.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Budapeste é descrita em detalhes por Chico Buarque em seu livro homônimo, sem nunca antes ter estado lá. Dizem que ele não errou em nada. Li o livro, mas não conheço a cidade. Deve ter usado fontes confiáveis. Isso não invalida sua sugestão, Pedro. Tivemos há poucos dias a cidade de Montes Claros citada na novela Império. A personagem Xana disse que voltaria para sua cidade, Montes Claros, no norte de Minas, pois tinha saudade de roer pequi, comer carne-de-sol, farofa "Monte Alto" e beber suco de coquinho. Soou muito falso (vi o vídeo no Facebook), e parece que foi pedra cantada pelo ator de Janaúba, cidade perto daqui, Jackson Antunes. O sotaque está a mil km, e o nome da "farinha Morro Alto" saiu errado. Houve quem gostasse da citação, mas aos nossos ouvidos foi como uma nota de três reais. Isso valida ainda mais a sua sugestão.
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