Vida exemplar de
magnífica figura
Há pessoas exemplares
que admiramos e até veneramos, mas que jamais tivemos a mais remota chance de
manter contato pessoal com elas. Salvo engano, estas são maioria. Em geral,
viveram antes mesmo do nosso nascimento, não raro nos antecederam em séculos ou
milênios. Conhecemos suas vidas, admiramos seus feitos, nos extasiamos com suas
virtudes, mas tudo mediante, apenas, leitura de suas biografias. Há, também, as
que igualmente julgamos dignas de imitação e reverência, que vimos uma vez ou
outra ocasionalmente (ou pela televisão, ou mesmo pessoalmente), mas com as
quais não tivemos nenhum contato pessoal, sequer troca de cumprimento. São
admiráveis, mas essa admiração, posto que profunda e sincera, é um tanto,
digamos, distanciada. É neutra e impessoal.
Todavia, vez ou outra,
a vida nos proporciona a oportunidade de não somente conhecer pessoas notáveis,
dignas de imitação e reverência, mas de ter certo convívio com elas, mesmo que
ocasional. É privilégio raro, bênção, presente dos céus, mas, embora difícil de
acontecer, às vezes acontece. Comigo aconteceu. Refiro-me ao jurista (juiz
aposentado), artista de múltiplas artes (sobretudo escritor, com 96 livros
publicados) e figura humana de extrema sensibilidade e bondade, Francisco
Fernandes Araújo. Tive a honra de conhecê-lo quando era editor de Opinião do
jornal Correio Popular de Campinas. Ele levava, pessoalmente, seus excelentes e
esclarecedores artigos praticamente todas as semanas, oportunidade em que
mantínhamos longas e profícuas conversações sobre política, economia,
literatura e a vida com suas complexidades. Para mim, aqueles momentos foram
preciosos, esclarecedores e inesquecíveis. À admiração que já nutria por essa
figura maiúscula e singular, veio juntar-se, automática e espontaneamente, profundo
afeto, que é o que sinto hoje por essa personalidade admirável.
Conheci, na oportunidade,
detalhes esparsos de sua vida e trajetória pública, tanto mediante essas
conversas que tanto me enriqueceram, quanto através de terceiros, que falavam
com entusiasmo e admiração de Francisco Fernandes Araújo, além de escreverem
cartas e artigos a seu respeito. E esse conhecimento aprofundou-se e
consolidou-se ainda mais em maio deste ano, quando fui brindado com sua
autobiografia, intitulada “Meu nome é Francisco... Você me conhece?” Dia desses
recebi o complemento dessa narrativa, intitulado “Pedacinhos de saudade dos
caminhos que eu andei...”, contendo artigos, crônicas, cartas, ofícios e
e-mails de pessoas a que ele impressionou tanto quanto a mim e que manifestaram
essa impressão e encantamento, como eu já fiz anteriormente e como torno a
fazer agora.
É questão de justiça e
até de inteligência que, em um mundo tão violento, corrupto e injusto, como o
desta dramática época que vivemos, tragamos à baila exemplos de retidão,
justiça, talento criativo e solidariedade, para servirem de exemplo, de parâmetro,
de guia de conduta às novas gerações. Quanto à pergunta contida em parte do título
de sua autobiografia, “Você me conhece?...”, reitero o que escrevi na
oportunidade em que recebi e acabei de ler este livro: “Conheço sim, mestre,
por sua competência como juiz íntegro e justo, responsável por ministrar
justiça. Conheço sim, como escritor que fala não apenas ao intelecto, mas à
alma. Conheço sim como homem generoso, que já doou mais de uma centena de
milhar de livros ao público, estimulando pessoas a lerem. Conheço, sim, como
poeta, que motiva e comove. Conheço, sobretudo, como amigo leal e confiável,
desses que consideramos como almas gêmeas.
A propósito da sua veia
poética, partilho com você, amável leitor, este curto, posto que expressivo e
revelador poema de Francisco Fernandes Araújo, que ilustra a contracapa do
livro “Pedacinhos de saudade dos caminhos que eu andei...”:
“Pelos caminhos plantei
esperanças,
Pessoas me doaram
corações...
Neles eu me abracei,
fiz alianças,
Muitas alegrias,
recordações...
Mas também eu plantei
muitos carinhos,
Promovi justiça, o bem,
igualdade...
Deixei meu coração
pelos caminhos,
Herdando pedacinhos de
saudade”
Depois de ler e reler a
autobiografia de Francisco Fernandes Araújo, reitero, palavra por palavra, o
que escrevi num artigo publicado no Correio Popular de Campinas em 26 de março
de 1993, sobretudo a forma como encerrei esse texto: “(...) pelo que tenho
sabido do juiz-poeta, através de seus amigos e muitos admiradores, sua obra
mais representativa não está no exercício da magistratura ou na literatura,
embora as exerça com brilhantismo. O trabalho mais notável desse exemplar homem
público, que se constitui num poema maiúsculo, é a sua vida, carregada de
exemplo! O doutor Lair Ribeiro observou, num de seus livros: ‘o segredo de um
bom comunicador não é ser interessante, é ser interessado. E de comunicação, o
juiz-poeta é um mestre com louvor”.
Boa leitura.
O Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.
Que lindos: jurista e enredo. Só consigo falar assim.
ResponderExcluir