Palavras sobre “Três olhares e o fascínio das cores”
* Por
Mara Narciso
Três amigas de longa
data vinham, há alguns anos, namorando telas e enchendo-as de cores, fazendo da
prática e aprimoramento o crescimento delas nas artes plásticas. De um tempo
para cá, estão com o mesmo professor, o renomado Sérgio Ferreira, no Ateliê
Galeria Felicidade Patrocínio. E não é que pegaram suas produções e as
expuseram no Centro Cultural Hermes de Paula no último dia 17? Lá estavam obras
de Magela Sena, Adelaide Godinho e Carmen Lopes. São pintoras iniciantes que
copiam o traço do orientador, ou estão prontas? Nem uma coisa e nem outra, e já
estão esboçando seu estilo e seu caminho.
Na qualidade de
apreciadora de arte, arrisco-me a falar sobre os quadros que vi, numa produção
vasta, que mostra a própria evolução de cada artista, nos temas, na técnica e
no traço. Como há um distanciamento temporal longo entre uma obra e outra,
percebe-se diferenças tais que, a uma curiosa como eu, não se parecem ter sido
feitas pela mesma pessoa. As considerações que poderiam ser vistas como
negativas acabam aqui, pois o que apreciei foram telas surpreendentes, que
poderiam estar embelezando paredes por aí, e seria um gesto de egoísmo
escondê-las nas casas das autoras.
Fizeram bem as artistas
plásticas, que, numa atitude de desapego mostraram as suas almas. Mais perigoso
do que escrever o que se sente, ou declamar em altos brados os versos que se
fez, correndo o risco de ser ridículo, como disse um dia o nosso mentor do Psiu
Poético, Aroldo Pereira, é pegar uma tela nua e vesti-la de ideias, de
pinceladas, de cores e imagens, passando uma mensagem para quem a olhar. Se de
beleza e contemplação, melhor. A cada um, a imagem fala de uma maneira
diferente. Depois de exposta, a obra pertence ao público, e não mais a quem a
produziu. Arte não se explica, se sente. E eu senti.
Magela Sena já escreveu
e publicou diversos livros de poesia. Tem uma memória brilhante e declama com
vivacidade e alegria. Desenvolveu seu dom e dele faz uso sempre que há
oportunidade, especialmente no Escambo de Livros, no Clube de Leitura ou em
outras manifestações literárias. Noutro dia falou tão baixinho de dois livros
que tinha publicado (com eles nas mãos), que tivemos de mandá-la repetir as
palavras da apresentação, pois ela, tímida, não estava valorizando o seu feito.
Diante da sua tela com a qual mais me empolguei, por mostrar uma mulher
dançarina, de cabelos de medusa e uma saia que era uma rosa em flor, viva e
repolhuda, perguntei sobre o que ela sentia: “Sei que foi muita ousadia da
minha parte, mas as pessoas estão olhando com cuidado, gostando e falando
comigo”.
Adelaide Godinho pinta
há mais tempo, acho eu, pois uma das suas telas era de oito anos atrás.
Mostrei-lhe dois quadros de flores com pistilos de fogo, ardentes e flamejantes,
com os quais eu tinha simpatizado, e ela me disse que eram de Carmen Lopes. Mas
eu não me dei por vencida, pois as margaridas do campo tinham me seduzido, e
mostravam serem flores modernas que não existem, embora lembrem margaridas. E
assim como as gaivotas em revoada, obras de Adelaide.
Os três quadros verdes,
que lembram a Amazônia, são de Carmen Lopes. Falei com ela dos seus pistilos
férteis e em movimento, e das flores de pequi que mais parecem ter sido feitas
a Laser. Quase não conversamos porque ela estava muito requisitada. E foram
muitas fotos, com a ampla sala da Galeria Godofredo Guedes bem concorrida, a
fotógrafa Silvana Mameluque fazendo seus cliques, enquanto a radialista Ana
Valda Vasconcelos comandava o evento, e João Jorge Soares, na qualidade de
gerente do lugar, falava sobre o vernissage. A escultora Felicidade Patrocínio
leu uma apresentação das artistas e logo um coquetel foi servido.
Montes Claros, cidade
da arte e da cultura, termo cunhado pelo falecido jornalista Reginauro Silva,
tem produzido arte e literatura. Muitos livros são lançados por semana em nossa
cidade. Precisamos formar mais leitores. O escambo de livros e o Clube de
Leitura os produzirão, e visitas a galerias formarão apreciadores de arte, pois
por essas bandas o que não falta são bons artistas.
Não quero fazer um
comentário tendencioso de amiga. Em relação às obras expostas, eu não diria que
todas têm alta qualidade, ainda que, não sendo crítica de arte, nem sei muito
bem do que estou falando, mas, asseguro que, como amante da arte, levaria
muitas daquelas telas para a minha casa.
*Médica endocrinologista,
jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto
Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Êta, mulherada talentosa... Isso inclui a resenhista! Abraços e parabéns, Mara.
ResponderExcluirAgora estamos precisando formar leitores e apreciadores de arte. A produção vai bem, obrigada. Agradeço o carinho, Marcelo.
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