A namorada do Raul
* Por Rodrigo Ramazzini
Primeiro
dia de aula. E como sempre acontece nesta ocasião, muitas apresentações foram
feitas, muitos amigos revistos nos corredores e etc. Mas o principal (e o que gera
maior ansiedade) é para ver quem serão os colegas de aula. Neste ano, poucos se
conheciam dentre a turma, por isso o primeiro intervalo já serviu para iniciar
um contato mais íntimo.
Reuniram-se
para conversar em frente à sala o Eduardo, o Gilmar, o Leonardo, o José, o
César e o Raul. Falavam das suas preferências futebolísticas, quando passou
pelo grupo a Tatiana, uma morena conhecida pelo seu belo par de nádegas. Foi o
Eduardo exclamar um – “Nossa!”, que o assunto mulher entrou em pauta. Começaram
pelas suas colegas:
-
O que vocês acharam da nossa colega Rafaela?
-
Gatinha!
-
É... Gatinha.
-
Bonita!
Mas
o Raul foi de opinião contrária:
-
Vocês estão loucos! Até o nariz torto ela tem...
A
turma apenas olhou-se. Passaram então para a Manoela.
-
E a ruivinha do canto. Gostosa né?
-
Manoela é o nome dela.
-
Gostosa mesmo!
-
Bem gostosa de corpo. E bem bonitinha de rosto!
- Tem
uns peitões, né?
E
novamente o Raul sentenciou a sua opinião:
-
Aposto que ela é cheia de celulite...
E
assim seguiu. A turma analisando as mulheres e o Raul opinando opostamente ao
grupo, sempre destacando um defeito da avaliada. No instante em que ele se
ausentou para ir ao banheiro, o Eduardo não perdeu a oportunidade e comentou:
-
A namorada do Raul deve ser muito linda, pois o cara colocou defeito em todas
as gatas que por aqui passaram. Muitas para casar e ele esnoba desse jeito.
Todos
concordaram. Os dias seguintes foram da mesma forma. O grupo falava em uma
mulher e logo o Raul dava um jeito de “desmistificá-la”, apontando um defeito
ou coisa que havia feito. Foi então que, certa terça-feira, o Gilmar entrou
correndo na sala de aula, e mesmo resfolegante, conseguiu proferir:
-
O Raul vem vindo com a namorada no carro. Só não consegui ver o rosto.
O
grupo prontamente sai e pára em frente à sala para ver a suposta beldade.
Quando a enxergam ficam pasmados. Era com certeza uma das mulheres mais feias
que já haviam visto, tanto de rosto como de corpo. Chamá-la de gorda seria até
um elogio. Usava um vestido floreado que logo foi comparado à “capinha” colocada
nos botijões de gás. Um saliente “bigodinho” era visto de longe, sem falar nos
óculos “fundo de garrafa”. Raul passa pela turma e apenas acena com a cabeça.
Um silêncio paira no ar. Então, o José deixa escapar um:
-
Só pode ser...
Todos
olham-no. Eduardo indaga:
-
Só pode ser o quê?
E
ele, sem conhecimento de causa, e esquecendo dos anos que fora coroinha da
igreja, sentencia, em tom profético, como se achasse o motivo:
-
Macumba! Isso só pode ser macumba!
*
Jornalista e cronista
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