sábado, 6 de setembro de 2014

A dúvida

* Por Emílio de Meneses

É a nova a aparição, mas, sendo nova, é a mesma
Que há muito me procura e se me foge há muito!
Se a apalpo, ei-la a esgueirar-se em coleios de lesma,
Se a sigo, só lhe encontro um rastilho fortuito.

Para bem defini-la, embalde, resma a resma,
Todo o papel estrago. Em vão traço o circuito
Em que a devo prender. Se agora atra avantesma
Logo é jogral que ri num ridículo intuito.

Ora é duro pedrouço, ora é um arrouxel de paina;
Ora o olhar amortece, ora lhe aviva o lume:
Ora agita as paixões, ora as paixões amaina.

O gesto do perdão e o gesto ultriz resume.
E eis-te mal esboçada em tua eterna faina.
Sócia eterna do Amor, fonte do eterno Ciúme.

(Últimas rimas, 1917)


* Poeta, membro da Academia Brasileira de Letras

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