sexta-feira, 16 de maio de 2014

Últimos dias de Guararapes

* Por Leonardo Dantas Silva

No Instituto Ricardo Brennand, situado em terras de São João da Várzea, que no século XVII serviram de quartel às tropas insurretas pernambucanas, o visitante dos nossos dias poderá ter um encontro com o Imaginário da Fé nas duas Batalhas dos Montes Guararapes, ocorridas em 1648 e 1649.

Numa área de cerca de 1.200 metros quadrados, o visitante é conduzido ao tempo do Brasil Holandês, um espaço de nossa história compreendendo os anos de 1630 a 1654 em que o Nordeste brasileiro veio a ser dominado pelos holandeses.

Nesse período de guerras cruentas, de tocaias, guerrilhas e escaramuças, duas batalhas foram travadas nos Montes Guararapes, a 19 de abril de 1648 seguindo-se de outra em 19 de fevereiro de 1649.

Na primeira Batalha dos Montes Guararapes, 5000 soldados da Companhia das Índias Ocidentais, sob o comando do general Sigmund von Schkoppe, vieram a ser derrotados por 3.500 infantes dos terços de João Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Filipe Camarão e Antônio da Silva. Nas baixas do exército holandês figuravam 523 feridos e 515 outros, entre mortos e prisioneiros, dos quais 46 oficiais. Neste confronto, perderam as vidas, do lado dos holandeses, os coronéis Hendrick van Haus, Cornelis van Elst e Servaes Carpentier, ficando feridos o general von Schkoppe e o coronel Guilherme Houthain. Do lado dos luso-brasileiros foram computados 84 mortos e mais de 400 feridos.

Dez meses depois, em 19 de fevereiro de 1649, os dois exércitos vieram novamente medir forças nos Montes Guararapes, quando 2.600 infantes que integravam as tropas luso-brasileiras, sob o comando do general Francisco Barreto de Menezes, vem derrotar 3.510 combatentes do exército da Companhia das Índias Ocidentais comandados pelo tenente-general Johan van den Brincken.

Neste segundo confronto, enquanto nas perdas do lado luso-brasileiro foram computados 47 mortos e 200 feridos, do lado dos holandeses perderam a vida o comandante-geral, tenente-general Johan van den Brincken, o vice-almirante Giesseling e 101 outros oficiais que, somados às demais baixas, perfaziam um total de 1.044 mortos e mais de 500 feridos.

Montes Guararapes

O fim do Brasil Holandês vem acontecer cinco anos mais tarde, quando da capitulação das tropas holandesas, assinada pelo general Sigmund von Schkoppe, na noite de 26 de janeiro de 1654, e a entrega por conseguinte de todas as praças até então ocupadas em terras do Nordeste Brasileiro.

Em memória das duas vitórias nos Montes Guararapes, ocorridas nos anos de 1648 e 1649, o general Francisco Barreto de Menezes, Mestre-de-Campo, general do Estado do Brasil e governador da capitania de Pernambuco, mandou erguer uma capela em louvor a Nossa Senhora dos Prazeres (1656).

Por se tratar de uma guerra religiosa, travada durante 24 anos (1630-1654) entre os exércitos da Companhia Holandesas das Índias Ocidentais, constituídos em sua maioria por mercenários luteranos e calvinistas, contra as tropas luso-brasileiras, constituídas por católicos romanos, cresce de importância a presença do sobrenatural nessas duas Batalhas dos Montes Guararapes.

Nesse contexto surge a devoção a Nossa Senhora dos Prazeres, povoando o imaginário coletivo com a crença de ter sido graças ao seu apoio conquistado essas duas vitórias nos Montes Guararapes.

Com o passar dos anos foram confeccionados sete painéis votivos, seis dos quais atualmente em exposição no Instituto Ricardo Brennand, retratando as duas batalhas, decisivas na reconquista do Brasil Holandês em 1654.

Esses ex-votos, pintados nos séculos XVIII e XIX, destinavam-se conservar para posteridade os feitos luso-brasileiros, usando para isso uma forma didática de apresentação em que são identificados por numeração própria os principais personagens, bem como a disposição dos terços e brigadas de infantaria envolvidas, tornando-se assim um documento raro de informações do ponto de vista da Antropologia, Sociologia e História.

Sob o título GUARARAPES, sob o Imaginário da Fé aqueles que forem ao Instituto Ricardo Brennand, na Várzea, serão convidados a arruar pela memória dos feitos de nossos antepassados, quando de suas vitórias sobre os exércitos holandeses.

Além dos painéis votivos, retratando às duas batalhas, os visitantes irão conhecer de perto a imagem original de Nossa Senhora dos Prazeres que, em 1656, veio a ser entronizada no primitivo templo erguido em seu louvor nos Montes Guararapes.

Colocada dentro de uma capela, tendo por cobertura o primitivo forro e retábulo primitivo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares (Rua Nova), recentemente restaurado pela equipe da restauradora Pérside Omena, a imagem de 50 centímetros vem atraindo a atenção do grande público visitante.

Paralelamente foi montada uma exposição com armas originais da Coleção Ricardo Brennand, em uso pelos exércitos do século XVII, uma mostra de livros sobre Guararapes e um vídeo contando a história dos dois maiores confrontos bélicos acontecidos no território brasileiro.

Arruar através do Imaginário de Guararapes é o convite que nos é feito pelo Instituto Ricardo Brennand até o próximo dia 18 de maio; no horário das 13 às 17 horas, das terças-feiras aos domingos.

* Historiador, jornalista e escritor do Recife/PE


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