Reflexões suscitadas por um e-mail
O leitor Kleber Batista escreve-me longo e-mail em que
mistura elogios e críticas, ambos pertinentes e bem vindos (mais as segundas,
as restrições, por me possibilitarem ser redator um pouco melhor, embora sem
desprezar os primeiros, os apoios, por me indicarem que estou no caminho certo).
Não costumo responder de público o que me é enviado em caráter particular.
Neste caso, todavia, abro exceção, com a anuência da própria pessoa que me
contatou e cuja fidelidade agradeço e rogo que permaneça intacta. Esclareço que
a crítica feita por Kleber não se refere ao meu estilo, um tanto despojado, às
vezes desbocado e na maior parte das vezes exagerado. Refere-se,
especificamente, aos temas que abordo neste espaço, que já se tornou
tradicional para reflexões diárias por quase oito anos.
Diz, meu amigo Kleber (posto que sua amizade é
virtual, mas nem por isso menos importante e menos apreciada que as
presenciais) que escrevo muito sobre escritores e que nem todos os que me lêem
exercem essa atividade. Têm outros interesses que não a Literatura. Ademais
observa que nunca critiquei nenhum homem de letras e que, em alguns casos,
chego quase a “deificar” alguns deles, como suprassumos da perfeição. Por fim,
sugere que eu dê “um tempo” nos meus textos, fazendo questão de observar que
não questiona a qualidade deles, que considera entre as mais altas encontradas
na internet, mas por preocupação com minha “sanidade mental”, entendendo que eu
deva “descansar”, para evitar o estresse.
Vou responder por partes, até para que os demais
leitores entendam e opinem ou não, se julgarem pertinente emitir opiniões.
Primeiro, meu amigo não deve estar lendo com a freqüência que diz os textos
publicados neste espaço. As dez, quinze ou vinte das últimas reflexões nada têm
a ver com escritores. Um ou outro é citado, sim, mas apenas a título de
ilustração, para reforçar alguma idéia minha sobre temas que esteja tratando.
Ademais, o Literário, assim como meu blog pessoal “O Escrevinhador”, até pelos
próprios nomes que ostentam, são voltados, “exclusivamente”, à Literatura. Faz
todo o sentido do mundo, portanto, que trate neles do principal agente da
atividade literária, o escritor. Ou não faz?
A segunda questão refere-se a críticas. Já expliquei “n”
vezes porque não critico escritores. Não me custa, porém, reiterar. Não o faço
porque só trago à baila os que aprecio. Quando não gosto de algum livro, ou de
algum texto esparso, ignoro-o, até porque posso estar equivocado a respeito e
me recuso a assumir o papel daquele que destrói ou contribui para destruir o
sonho de alguém. Estou errado? Até pode ser. Mas não abro mão dessa postura nem
por decreto. Se você quiser ler críticas aos escritores “x”, “y” ou “z”, acesse
outros espaços. Aqui você não as encontrará, esteja certo. Eu sei, como
ninguém, o quanto essa atividade é desgastante, frustrante e decepcionante. Não
moverei uma única palha para torná-la ainda pior para qualquer escritor.
Ademais, não “deifico” ninguém. Só evito “demonizar” alguém, como muita gente
faz.
A terceira questão do Kleber, que nem é de fato uma
questão, mas saudável preocupação com minha sanidade mental, é por que não me
afasto da atividade literária por certo tempo, que ele não determina quanto,
para descansar e assim evitar o estresse. Essa eu respondo com este texto do
poeta português Miguel Torga, a propósito de quem já escrevi neste espaço,
extraído do seu livro “Diário”, datado de 1942. O ilustre escritor patrício
escreveu: “-Mas por que não deixa você de escrever durante uma
temporada, para descansar? – perguntava-me hoje alguém. – Porque era a mesma
coisa que um crente deixar de rezar um mês ou dois, por higiene”. Pois é,
Kleber, creio que esse texto responde por que não me afasto, nem
temporariamente, da atividade que tanto me fascina e mobiliza.
E por que escrevo tanto? Pelo mesmo motivo citado por
José Saramago, o único escritor de língua portuguesa a conquistar um Prêmio
Nobel de Literatura, que concluiu: “No fundo, todos temos necessidade de dizer
quem somos e o que é que estamos a fazer, e a necessidade de deixar algo feito,
porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de
eternidade”. Escrevo tanto por isso. Por ser a única forma de eternidade que
considero estar ao meu alcance, posto que remotissimamente.
Só evito me deixar cair na tentação de recorrer ao que
denomino de “pirotecnia verbal”. Recorro (ou penso estar recorrendo) ao
expediente da simplicidade para expressar o que sinto e o que penso. E explico
por que. Aliás – já que citei Miguel Torga e José Saramago, aproveito o embalo
para citar outro mestre, e garanto que não estou “deificando” ninguém) – para
justificar esse meu procedimento, recorro aos préstimos do argentino Ernesto
Sabato, que escreveu: “Um bom escritor exprime grandes coisas com pequenas
palavras; pelo contrário, o mau escritor diz coisas insignificantes com
palavras grandiosas”.
Escreva sempre, amigão Kleber Batista, que prometo
responder, sem titubear, caso, claro, você me autorize divulgar a resposta
neste caótico “oceano” que é a internet. E agradeço por seus questionamentos
que, no mínimo, me pautaram para redigir estas descompromissadas reflexões de
hoje. Continue me lendo (pelo amor de Deus!), mas lendo de fato e não apenas
passando por alto nos títulos, se tanto, dos textos postados neste espaço.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Boa noite amigo Pedro! Achei interessante sua disposição de espírito ao responder o e-mail de Kleber Batista, e que lhe suscitou tais reflexões e você, tão cordato (como sempre) nos presenteia com este texto exemplar em resposta ao referido missivista, esmiuçando cada tema com muita propriedade. E como apreciador de citações (quando inteligentes e oportunas) eu também concordo plenamente com Ernesto Sabato: “Um bom escritor exprime grandes coisas com pequenas palavras; pelo contrário, o mau escritor diz coisas insignificantes com palavras grandiosas”.
ResponderExcluirAbraço fraterno!!
Para quem escrever é um prazer, não há cansaço, e sim descanso.
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