Ora, para que serve uma
academia de letras?
* Por Mara Narciso
“Favor não legislar em causa própria!” Sim, pode dizer. Eu acato. É
verdade que não existe uma Academia Masculina de Letras, e boa parte das
escritoras da nossa academia é madura. Porém não é preciso ter envelhecido para
fazer parte da Academia Feminina de Letras de Montes Claros. Há também
escritoras jovens. Para participar, o requisito único é gostar de escrever, e
naturalmente, também de ler. Uma acadêmica efetiva, conhecendo uma escritora,
indica seu nome, cujo trabalho literário é analisado por uma comissão, e então,
caso seja aprovado, toma posse.
Após quase cinco anos de existência faço um balanço das nossas ações.
Alimentar vaidades, elogiar, aparecer, são possibilidades, não nego, e isso
pode até fazer parte da vida intelectual, mas tem pouquíssima importância. Após
ver sanadas as nossas necessidades básicas, vêm a ciência e a arte, e nela a
literatura. Para congregar intelectuais e estudiosos da língua portuguesa com
atividades literárias surgiram as academias de letras. Seguindo a tradição
francesa de quarenta lugares, é de praxe que essas agremiações tenham esse
mesmo número de pessoas.
A diversidade física e histórica das quarenta mulheres da nossa academia
vai de um extremo ao outro, assim, a heterogeneidade do grupo é imensa para
caber numa análise simplista. As profissões das escritoras ocupam várias letras
do alfabeto. Há professoras, sendo que algumas foram ou estão ligadas a
Unimontes - Universidade Estadual de Montes Claros. Nada é obrigatório, exceto
o convívio e o pagamento da mensalidade. Além de produzir livros e estimular a
produção literária, a agremiação fomenta a formação de leitores e a cultura em
geral, dando presença e apoio aos acontecimentos culturais. Temos quem escreva
em prosa e verso, romancistas, poetisas, cronistas, trovadoras, humanistas,
biógrafas e ensaístas. Há quem defenda causas e faça política, entre outras
atividades. Nossas escritoras são jornalistas, filósofas, pedagogas, administradoras,
artistas plásticas, escultoras, médicas, advogadas, mulheres trabalhadoras de
múltiplas atividades, com experiências de A a Z. Sendo assim, a temática
abordada em nossos escritos pode atingir os milhares.
Somos imortais do ponto de vista metafórico. A imortalidade vem da ideia
de que quem produz uma obra literária, a partir dela e das escritoras
subsequentes não será esquecida. Cada cadeira tem uma patrona que também foi
literata, cuja biografia é dissecada na homenagem de entrada da nova acadêmica,
que irá ocupá-la. Uma vaga surge por morte ou desistência. Existem ainda as
sócias correspondentes. Boa parte já publicou livros. Há as que participam de
jornais impressos, virtuais ou blogs, além de colocar seus escritos nas redes
sociais da internet. Conhecer as produções de cada uma nos leva a diversos
mundos e realidades.
As atividades acadêmicas como posse de novas sócias ou da diretoria,
reuniões comemorativas, lançamentos de livros próprios ou alheios, dinâmicas de
grupo em datas específicas, saraus, performances literárias, canto e música,
apoio e presença em momentos culturais da cidade mostram a relevância do nosso
trabalho. As ações ampliam-se a cada dia, e já se percebem notáveis. As
possibilidades de atuação da nossa academia se concretizam rapidamente, de tal
forma que, depois de vê-la movimentar o pensamento filosófico, festejar a
inteligência, enlevar o espírito é de se questionar, não para que sirva e sim o
motivo de não existir há mais tempo.
Conheça nossas atividades e a influência da nossa mentora e Presidente
de Honra professora Dona Yvonne Silveira, no ano em que ela faz cem anos. E, na
lucidez do seu centenário, com humildade, continua engrandecendo o saber em
nossa cidade de Montes Claros, com a admiração de todos.
*Médica
endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de
Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora
do livro “Segurando a Hiperatividade”
Seu texto responde com propriedade à pergunta do título. Parabéns, Mara.
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